lundi 27 juillet 2009



Por isso, ela crescia para dentro.


Dizia que: “ tudo o que não invento é falso”(in Manoel de barros)

Chovia.
Passos se estreitavam.
Vistos do céu: guarda-chuvas desenhavam estrelas do mar.

Parou.
Suas pernas não queriam mais continuar. Seu corpo cansado de ser passivo,agora ordenava.
Dançou impulsivamente na chuva em meio à multidão ensurdecida de si mesma.
Seu corpo sabia como vesti-la de vida.
Debruçou seus olhos diante a poça que se formara: transbordou-a num chão de oceano por onde deslizava e, em desespero, pensava nos desejos que em sua pele coagularam, mofados de tanto esperar.

A tirania do seu corpo ordenava sua alma-nua. Com a nudez de sua alma: o mundo se liquefez e entornou cores sem formas que só se constituíam nítidas sob a perspectiva do sentir. O que pulsava,desenhava-se de contornos. E neste dia, do embaçado de tons amarelos,nos olhos dele se refletiu,olhar dentro do outro olhar,espelhos.

Relevo coberto dos sons de suas palavras: ele se fez nítido e suas mãos as dela se davam por todas as ruas.
-teu amor me chegou num dia morno,devorou-me e então, percebi: te amava.

A multidão, passos entre os outros passos que passavam, borrão de cores e sons,insípidos e inodoros pois não os pertencia. Os traços se desenhavam nas linhas de suas retinas, ruas de lembranças.

Um dia, ele, líquido,entornou-se em retinas comuns, desfeitas nas cores da multidão.

Do céu: guarda-chuvas desenhavam escudos contra o cinza-morte que o vento esvoaçava de tudo.
E em saudade, ela dissolveu-se.

Juliana Gelmini


(Pintura: autor desconhecido)

samedi 25 juillet 2009

sapatilhas de lã

Hoje acordei e minhas mãos estavam menores, vestia um pijama com estampa de Julieta e era amarelo- pensava em como achava mais bonito esse nome do que Juliana . Era julho e eu vestia sapatilhas de lã de uma cor forte- cor de coração de vó- várias coisas no mundo possuem esse cor, almoço de domingo, olhar de incentivo, e eu tinha essa cor nas sapatilhas de lã do inverno. Hoje vestida nelas, achei que poderia deslizar pela casa toda ou por todo o céu inventado- coisa secreta - mas com eles nos pés, enxergando tão nitida aquela cor, chorei. Como se ela  pudesse, de alguma forma, me colocar no colo e enrolar meus cabelos em seus dedos enquanto o restodo mundo ia desaparecendo...




Para a minha Vó.