lundi 13 décembre 2010

sussurro




Há flores vestígios,
fios grotescos do vento
a espalhar teus cabelos
em desenhos esquecidos.



(Juliana na palavra e pintura do Chagall)

flores de areia






Há flores de areia, 
suspensas no Sol,
se derramam
em invisível véu
sobre o Amor.

(Juliana na palavra e pintura do Chagall)

o beijo



eu inteira era "castelo de mar e estrelas de areia" no teu beijo... 

flores de água


Há flores de água 
desfazendo-se 
em minhas mãos 
dadas a sua memória.



Flores de Nada


Há flores de Nada, 
brotam,
assim, 
do caos pleno 
à vida 
no coração do Tempo.




flores de Tempo






há flores de Tempo, 
fios de vaga-lumes
feitos de ti.

lundi 22 novembre 2010

TIC-TAC


Metódica
é medida
de pôr do sol
com farinha,
farelo de vida....

A palavra METÓDICA é muito METÓDI
CA mas tanto-TANTO que já está toda se coçando por estar  escrita assim Se-pa-ra-da, nem ligo e continuo a história rápida, já que metódica não tem tempo, só pressa, é palavra antiga e quadrada de corpo-relógio com hora marcada, e peruca (- é mais prático!- ela declara.). Além da maleta no topo da cabeça, que nunca abriu,
 - sou ocupada!- pensa alto e acelera o passo.
Ela não sabia mas sua maleta era viva, de olhos, orelhas e canto que Metódica  nunca ouvia.
TIC-TAC-TIC-TAC- seu coração-relógio batia,
e o TIC-TAC-TIC-TAC engolia outro dia.
Até que no meio da pressa, tropeça e, do lado de fora da caverna, desperta.  


Metódica,
Então,
acorda t                  r                a,
                    o                 t    
maleta aberta,
sem pressa,
relógio
ou esquema
que a adormeça
 viva.

Agora
é palavra
a espalhar
canto-plural
ao outro,
coração como teu,
humano.

Não rima
nem quer rimar
gosta do verso-acaso:
uns espichados versados
outros,curtos.
Entende a beleza imperfeita,
a assimetria plena
que nos constitui.

Metódica, quando quer,
até se vira, ao contrário,
ácido-tem:
- meto dica ao mundo inteiro!-
grita. 
- A pressa  oculta o Amor.

lundi 1 novembre 2010

Pela cidade

O menino, olhos-bola-de-gude, olhou-me, dentro do teu corpo de brancos cabelos, rugas e vazios.


Juliana, para meu pai.

dimanche 31 octobre 2010

Amor sem Depois


Chove.
Gotas espalham pensamentos, cílios, palavras
Hoje, aos 80 anos, é o casamento da minha neta.
Ela, olhos-girassol, toca o que o mundo guarda de laranja.


Num dia, seu olhar engoliu um inteiro Sol,
Era tanta luz, que meu saber de pupilas sabia, ali, havia Amor.
Foi por um menino muito tímido, ela me contou, que sentava no fundo da sala de aula e gostava de desenhar, inclusive com seus pensamentos, em madrugadas de vôo e num mundo outro, debaixo do lençol.


Sorri, era o destino que não vivemos, guardado no tempo,
que , finalmente, encontrou outro Amor,
e, nele, vive nosso depois, inexistente.


Ainda sinto sua falta,descobri,
das tuas rosas, que por ai, dançavam e, de repente, brotavam, por dentro.


Espalho no chão fotografias:
Viagem da praia,
lembra?


Fixo meus olhos no teu rosto e teu corpo se mexe, subitamente, pela areia branca.
Pisco,
E o vento da praia invade o cômodo,
me arrasta do corpo.


Por dentro da foto,
ao teu lado,
Acordo.






Juliana Gelmini

samedi 30 octobre 2010

contra-mão






Lembrei de ti,
de quando "andava de patins na contra mão"
no chão engravatado com velocidade a jato,
eu sei,é difícil.

As vezes, acordo assim, no teu corpo, aí, danço, ver de verde, Ah é, aprendi a dançar, inclusive quando o canto é expectativa, ônibus lotado, ansiedade,  bomba nuclear, o desequilíbrio e sua busca de cais, o Amor que se espalha, ou a Ventania,  que a Vida, quando é viva,  nos entrega. Prefiro a aspirar calmaria tom pastel.
O querer deseja a vida amanhecida de vermelho.


Juliana


Ím-Par

Ímpar:
guarda na sílaba
sua busca maior.
Ali, um Cais,
Será?


Par,
ímpeto,
Peito feito
Pupila dilatada:
Luz,
Canto,


O Amor se espalha:
flor que guarda Sol
FLOR que acorda Sol



Juliana

lundi 18 octobre 2010

Acrobatas

Acrobatas
Suspensos no ar
um fio de prata
os une,
fusão


Manhãs
Plural,
de dois.


Será o momento
do salto
sem redes de proteção?


Abraço do tempo
dobras de tecido
mutua entrega
pura
sagrada


o mundo se espanta,
canto em lá maior,


nossos fios, elo


Comunhão entre:
Vida,
Destino,
e Amor.












Orvalho:


Gota
de plena alma


Dança
a letra da página


Gota
de orvalho
espelha nos olhos
manhãs




Juliana

Flor que acorda Sol

Juliana

Flor que guarda Sol



Juliana ^ ^

Guarda-chuva



De repente, se abre e espicha.
Com chuva, canta: uma gota se lança, plim!
Outra gota acrobata salta, escorre em seu corpo
e se espalha num transparente borrão que o chão  acolhe na palma da mão, pequena poça.


A chuva cansa.
O guarda-chuva,então, se encolhe, novamente, criança e espera o tempo das gotas no seu corpo metal- pano.


A madrugada, certa vez, despertou meu guarda-chuva:


- Duvido! - declarou meu guardador de chuva.


Tremi, sem encarar seus olhos redondos.


- Duvida?? - insistiu em tom rouco


- Do que??- respondi ainda com sono.


- Duvida que... fechado, sou infância, e encolhido fico eu e meu corpo até que,  em dias chuvosos, o tempo me abra em outro... Assim, quando quero, sou criança e, quando enjôo, chuvisco, e aberto, já adulto, espreguiço.

Sorri,
"Um dia,quero acordar, assim, guarda-chuva."
E olhando seus olhos de pano, arrisquei:


 - Me ensina?!




Juliana Gelmini

dimanche 29 août 2010

Ideia de palavra

*Influênciada pela autora contemporânea linda: Adriana Falcão.








Ela ajeita a flor do cabelo duas vezes, pra procurar palavra 
que escorregasse assim de repente do pensamento.
Mas não escorregou.
Não do pensamento.


O que ela não sabia era que palavra que tem coração e tudo
não escorrega nem nada mas beija o que toca.
E ela achou tão bonita aquela ideia que começou a encontrar 
palavra fogo-de artifício: ano novo
ou ainda palavra vaga-lume no olho: eu te amo.




Ela achou perigosa essa ideia de palavra que tem coração e tudo 
mas não escorrega nem nada
porque unia ela ao lá que existia dentro dela, lugar que antes
parecia mais impossível de chegar
só com a memória, ia de voo
mas lá sem ele, parecia soco

Então, bem no meio do lá, parou numa palavra de sal
e no azul dela se cobriu toda.






(Juliana e seu lado piegas  numa madrugada que esqueceu de dormir)

lundi 12 juillet 2010

Caravela


Nuvem, não se desfaça.
Seja caravela, apenas
Não desmanche tinta d'água
Mas o de repente engole o pra sempre
Então,percebe: é tinta
a espalhar-se no corpo da vida.





dimanche 6 juin 2010

Anzol de Vô


- Carambolas guardam estrelas do mar.
- Como assim, Vô?
Então,cortou o topo da carambola amarelada e me mostrou uma pequena estrela - coisa do vô, pensei e no seu colo, meu pensamento todo carambolava. Ele dizia que era por isso que seus cabelos enrolavam nas pontas dos fios:
- É anzol pra pensamento,Bia. Vovô precisa dele pra não deixar nenhum escapolir. Pensamento dana pra fugir mas os meus ficam presos aqui - e apontava pras pontas dos fios, arrancando deles o pensamento mais  comprido. Eu não tinha anzóis e as idéias desciam pelos meus fios-escorrega, se divertindo. Vovô achava que idéia era pra ser livre mas dizia que se escorregasse rápido assim, ela desexiste.
- Desexiste,vô?
- É. - e da estante pegou um livro,esse eu nunca tinha visto na prateleira. Abriu em qualquer página e disse:
- Bia, lê essa história pro vô?
- Mas aqui nada tá escrito!
 E ele riu , tentando enrolar as pontas dos meus fios.
- O ar é pintado de que cor?
- Azul- disse convicta.
- Também, Bia. O ar é pintado do que respira e da mesma cor é o vazio.Por isso, neste livro em branco o Tudo está escrito.
 Por que será que vovô sempre me conta coisas esquisitas? - pensei.
Vovô abriu o livro novamente em qualquer das páginas do seu vazio e dele, brotaram  palavras infinitas. Minha cabeça girava, vovô e eu no meio daquela multidão de palavras, pensei em fugirmos pra outro Nada mas... o que adiantaria? Todo Vazio era tão tumultuadamente preenchido!
-Já sei!- disse e todas as palavras me olharam.
 - Era uma vez...- gritei em meio ao tumulto delas.
As palavras,então, foram me seguindo e, assim,o em branco ia desexistindo...


Juliana Gelmini
co-autor: o Vazio

mardi 1 juin 2010

Beatriz


Beatriz olhava fixamente para um formigueiro. Imaginava as formigas andando em skates–bandeids e dormindo em travesseiros-saquinhos de chá.


- Aonde estou?
- Dentro dos seus pensamentos.
-... como faço para sair daqui?
- e eu sei lá.
- Quem é você?
-Você.
- que isso! Ta doida?
- Esqueceu que você tá perdida dentro de você mesma, nos seus pensamentos?
- E agora?
- pergunta pra mim?
-E para quem que você acha que vou perguntar? Só tem eu aqui dentro!
- Claro que não! Você nunca se perdeu em pensamento antes? Sabe aquela história que a gente aprende sobre fronteiras? Essa palavra não existe do lado de cá.
- Como assim?
- Pensa em qualquer coisa agora.

Beatriz se lembrou das formigas com seus travesseiros de saquinho de chá e, subitamente, na sua frente, lá estavam.

- Ah, mas isso é apenas pensamento.

Então, uma formiga acordada andou até Beatriz e disse:

- Que negócio é esse de colocar a gente pra dormir com travesseiro? – e lhe mordeu.

- Isso não é pensamento, é real!
- e você não sabia?
- do que?
- que os pensamentos existem.
-Saber eu sabia, mas não que eram assim com corpo, voz e tudo.
- Mas são. O que você pensar: aparece, vive e respira.
- Não é verdade. Se eu pensar num rádio, ele não vive.

Foi quando um rádio passou voando lhe acenando de longe.


Beatriz estatelou.

- Que isso! Mas eu não pensei nisso.
- Esse ai fui eu quem pensou, desculpa, era só para me divertir um pouco, às vezes, é preciso. Mas não se preocupe, era um pensamento de vôo. Aqui dentro tem muitos caminhos, tenha cautela para não se perder nos lados mais movediços.
- Por que diz isso?
- Quando a gente se perde no pensamento, ele nos leva para onde quiser.
- Você fala como se ele tivesse vida.
- E não tem?
- Mas sou eu que dou vida a ele.
- Mais ou menos. Depois que nasce, o pensamento cresce e você não pode saber o destino dele.

Beatriz olhou o formigueiro que antes tinha imaginado e percebeu que tinha se tornado um bolo. Pegou um pedaço...

- Cuidado, é perigoso comer isso.
- Por quê?
- Porque não foi você quem o pensou, foi invenção do seu pensamento depois que o criou. Aqui, Beatriz, é território sem fronteiras, lembra? Tudo que pensa, brota, mas o destino do que brota não é seu, é dele mesmo...

Beatriz ignorando as palavras, comeu o bolo.
Sentiu-se estranha.
Fechou os olhos.
Então, realmente, acordou.



Juliana Gelmini
(co-autores: Beatriz e ela mesma, formigas e rádio voador)

dimanche 30 mai 2010

canto

Queria fechar os olhos,
ver crescer o escuro, o mar invandindo as frestas,
o espanto do Tudo pintado de água
até eu mesma estar debaixo dela
nadar no vazio de existir
apenas
nadar no vazio de existir,
nua
ao lado da minha criança
sem verso, rima, ponto final ou intenção
apenas fluxo que escorre na busca atropelada do dia
que não acorde empurrado de carros e atrasos,
pilhas que não funcionam, plásticos abandonados...

Mas por canto que traga vida, 
e, assim, dela, eu asfixie.


Juliana

Vestido de gala

- Que isso! Leite na taça de vinho?
- É.
- Mas, assim, o leite vai pensar que hoje é feriado por sair vestido no seu melhor traje!

Leite: - E o que tem passear em taça de vinho? Por que eu preciso ser tinto? Quem disse que só a xícara habito? Vamos combinar assim: me derramem por ai! Pra ser de formas que nunca me vi.

         Assim fiz, o entornei por ai, como me pediu:
         - Quer saber? Aquele  vestido de taça era o mais sem graça!
         - e o que tem graça?
         - Evaporar!


E desapareceu.




Juliana , coautor: Leite da taça


E agora, Olga?

(Criação em literatura infantil)




 - Quero te dar uma palavra: Floplis.
Se não quiser, pode me devolvendo...


 - vou guardar comigo!


 - Floplis não, FLOPIS! Troquei e agora já soltei pelo mundo outra palavra...


- que palavra?


- Floplis que eu troquei por Flopis! Não ta prestando atenção não, é?


- Não. A palavra que você me deu não pára de cantar...


-Desculpe, não sabia que a Flopis nasceria tão tagarela...


- Não é tagarela! Ouve!... E então?


 - Nada.


- ... E nada também?


- Não! Disse que não ouvi nada!


- Como não?


- Vai que ela adormeceu?


- E palavra dorme?


- Claro! Até as palavras precisam do sonho ou da madrugada pra viver...


- É, mas parece que a Flopis dorme de dia!

Ela deve estar com seu relógio de palavra caduco!


- Caduco ta você, Alan! Pára de falar besteira! Eu já consertei o relógio-palavra dela antes!


- Mas que presente mais girafudo você foi me arrumar, Kifa!


- Deixa a Olga fora disso!


- Quem é essa agora?


- Minha Girafa, Alan!


- Outra amiga imaginária?


- NÃO! – respondeu Olga aparecendo da quarta nuvem à direita.






Kifa e Alan correram de susto até as flores gigantes de algodão azul e se esconderam nelas, incluindo todos os dedos dos pés e das mãos e a barriga de Alan, é claro, que só encolhendo coube.




(Dentro das flores gigantes de algodão azul)


- Agora sei como uma borboleta se sente.


- Como uma lagarta se sente, você quer dizer,né!


-Tanto faz! Ela entra lagarta neste algodão... ai, o tempo canta e pronto! Brota a asa e ela vai morar na palavra borboleta!
... Kifa, você ta ouvindo?



- ah,não! De novo isso! É a Flopis cantando?


- Não, que Flopis o quê! Esqueceu que ela dormiu! ...Kifa?... KIFA!!!!




DE REPENTE...


dos braços de Kifa brotaram asas!




 - Alan, eu ouvi! É o tempo que ta cantando! E é a mesma música que ele canta pras lagartas morarem na palavra borboleta!




Alan ficou fascinado e se concentrou no canto do tempo, só que... ao invés de asas, dos seus braços brotaram galhos e folhas e Alan foi crescendo, crescendo, crescendo... até esbarrar no teto do mundo.


- KIFAAAA!! – Gritou Alan lá de cima – E AGORA???



Kifa voou e voou e voou... até encontrar o início de Alan.



- Agora? Parece que você vai morar na palavra árvore!


- Árvore?!?! E será que eu caibo?


- Ah, Alan, caber assim... a gente nunca cabe,né! Por isso que o tempo está sempre cantando e tudo que existe vive trocando de corpo-palavra.


- É? Que doido!!... E você?


- Num tá vendo,não? ...O tempo cantou pra que eu morasse na palavra borboleta.


- Ainda estou confuso!


- é uma cabeça de árvore mesmo!






Os dois riram até que...


Cri!






Cri!


Cri!


Cri!


- Alan, que isso? Ta ouvindo? O canto outra vez?


- Não reconhece essa voz?


-... e eu sei lá!


- É a Flopis que acordou, Kifa!


 - A Flopis? Mas...
OLHA,ALAN, AONDE A FLOPIS FOI MORAR!!


...


Juntos (Alan e Kifa): - NUMA CIGARRA!!


- Ah, agora faz sentido!


- ou não!


Flopis: - Cri! Cri!... Zum!


                                                              
                                                                                              Continua...










Juliana Gelmini



vendredi 21 mai 2010

Carta à Promessa(Agosto de 1993),

Destinatário: para Juliana que serei, com carinho, da sua criança.
Agosto, 1993




Faz frio.
Tudo dorme.
O escuro adormece o mundo, menos os caranguejos... que moram no chão debaixo da cama da minha mãe e do meu pai mas só quando não há luz.
Eles estão vindo agora.
Mas quando chegam perto de mim, vão embora.
Talvez, eles também sintam medo ou teçam planos noturnos de caranguejos, contra humanos.
Minha mãe diz que eles não existem: "É sua imaginação, minha filha. Reza que passa!"
Não conto mais nada também! Aprendi assim a guardar segredo comigo mesma. E só você sabe o que eu não te escrevo nesta carta, só você.
Que bom que agora também está acordada, não me deixa sozinha nessa casa...

- Tá tudo bem, eu tô aqui. Só são caranguejos noturnos: aprenda a ouvi-los! Eles não tem planos contra humanos, apenas estão nadando.
- Nadando?
- É, o escuro é o lago, olha! De noite, ficamos todos de baixo d'água, foi o que aquele ali me disse.

Eu lembro que na primeira vez que você veio, eu tinha o mundo em mim e caranguejos-mergulhadores, por mais sem importância que  isso possa parecer pro Tudo.
Mas você me ensinou que o Tudo, na verdade, cabe num cílio. Daqueles que a gente finge que é jangada-etérea e sopra longe para ajudar que ele volte pra sua distante água-viva-natal.
Mudando de assunto, etérea é palavra tão bonita,né?

Você disse que quando os caranguejos voltassem, pra não rezar não mas te escrever uma carta que ai, você viria para gente se divertir no nosso escuro de baixo d'água com caranguejos- mergulhadores que tanto sabem nadar - descobri que também bóiam!- e,alias, estão te mandando um beijo-beliscado.
Cadê você? Anda logo, antes que a escuridão seja pintada e os caranguejos com ela durmam.

Plano J:
Por que você não casa com o Tempo?
pra nunca mais ir embora daqui ou eu nunca mais daí voltar!


com carinho,


da sua criança-Juliana, Agosto de 1993.

vendredi 14 mai 2010

Era uma vez desnacido

Era uma casa muito engraçada.*
Boa pra desnacer.
Num 1/4 e 3 quilômetros do ontem, desnaceu casa para ser nuvem.
Lá de cima do teto-etéreo,torceu  sua cor recém-inventada em gota d'água de livre vôo.
A abracei com as linhas do meu rosto e as pendurei no vazio.
Assim, acordarão: rio-horizonte desnacido.



Juliana



*inicío do texto dado em aula (com proposta infantil) para que desenvolvéssemos.

mardi 13 avril 2010

o contrário da batata

Amiga, você sabe qual é o contrário da batata? Será pássaro? Será camelo? será janela? Se for, eu fico com o contrário, mas isso deixaria a batata rejeitada, então, iríamos... plantá-la? Vamos! Eu sei que, com certeza, você também se empolgaria comigo e o jornal das pequenas coisas anunciaria: formigueiro se depara com novo lustre, que é a batata plantada, mas elas, formigas, não sabem! E foi assim que esculpiram escorregas no lustre-batata, desculpa para as formigas que se lançam em queda livre do topo do (seu) mundo! E eu sei o quanto só você pode entender tudo o que eu digo! Amiga, é exatamente isso que você precisa fazer com a Ana: transformar sua batata em lustre-escorrega, entende? No demais, não esqueça de pensar nesses contrários quando ela estiver falando. E já que ,outro dia, você levantou o pensamento sobre os anões... O contrário de anão seria? Alface? E a quem mais no mundo isso importa além de nós duas? Ter o seu abraço de manhã e olhar para ti com as certezas de detalhes já conhecidos é o que me faz sentido, além disso, a faculdade seria apenas mais e mais corredores e sem ninguém para perguntar o contrário do ovo. E a interseção? A interseção do mundo qual é além do coração?




Eu ouvi na aula que o ser humano é um ser voltado para o amor e estou te contando como outra sugestão de temas de pensamentos durante a aula da Ana, ou no ônibus, ou no tempo, é, no tempo, quando um dia do amanhã do amanhã do amanhã, você estiver arrumando seu tempo e perceber essa carta escrita na gente. A pessoa interseção maior com meu espírito. Você tem que prometer que não vai desistir dessa matéria, promete? Quando chovia, um pássaro se divertia com a chuva lá de cima do poste, sabia que você o enxergaria também e eu senti sua falta, de quando juntas somos pássaros e já que somos, vamos espalhar por aí nosso mundo, enviar cartas para as casas de pessoas desconhecidas ao invés dos anúncios que para elas chegam e contar sobre a dança do pássaro que chovia, torná-la audível, assim como o contrário da batata, do ovo, do caranguejo, do Destino... mas, principalmente, as interseções que só o diálogo torna destransparente, ainda que seja diálogo-silêncio-fonético: como este, apesar de achar que de silêncio, nada tem. É puro rebuliço, linguagem sem corpo que todo mundo compreende. E pensa no dia que a gente olhar para alguém e perceber que ali algo deixamos, assim a gente sente aquela felicidade sem este nome. E em nome dela te escrevo, porque você a torna possível mesmo quando acho que nada acontece, é que, na verdade, estão em fusão gradativa mais e mais palavras tuas até que, quando percebo, tenho quilômetros de infinitos.



Eu acho que mudei muitas vezes de assunto, mas é porque comigo tenho seus quilômetros de infinitos e queria te perguntar: então, amiga, que Agora vamos tecer com eles?



Com carinho,

Juliana





eu amo você.

vendredi 26 mars 2010

Era uma vez de vaga-lumes


Uma menina nasceu do pó da gelatina que se entornou sozinho. O pó tinha tanto brilho que cada ponto parecia caber dentro um vaga-lume. Quando ficou pronto, entre o vapor e a água fria, nadaram todos os vaga-lumes, desenformando uma menina. Uma vez, ao piscar, um deles soltou-se.
-eu sabia! - disse o livre vaga-lume.
A menina se assustou com a certeza do bicho, já acostumada que vaga-lume fala porque até prosavam de madrugada e a menina sempre lhe contava dos eclipses de pupilas que eram de luz mas o vaga-lume, sempre ocupado com o nada, não ouvia. Até que numa hora letra ela lhe contou:
- você sabia que nada é o partício passado do verbo nascer? - disse a menina
e desde então,do nada nasce tudo o que respira,
foi primeira vez que o vaga-lume ouviu a menina.



Juliana Gelmini
(para Isabela)

fotografia: autor desconhecido

jeudi 25 mars 2010

sobre pupilas

Um jornal que não abro
anuncia misérias:
escapo

Escamas de nuvens
observo do teto
o desviro em céu
nas pontas do que enxergo.

Meu corpo adulto
descensura o confronto:
com o real imposto,
descrito pelos outros.

Olho uma fresta,
me escondo.
- Não é possível que exista!
isto é ficção vendida!

Derramo-me sobre o que leio
umedeço todo o jornal
em borrões de letras
que afogadas, reinventam-se.

das letras teço o relato:
pupilas abraçam-se
no tempo desvirado,
eclipse de luz.

Juliana Gelmini








fotografia:autor desconhecido

mardi 23 mars 2010

Eclipse

foi, então, quando duas pupilas se abraçaram.
Mesmo no escuro, havia luz.

Juliana



Ilustração: Iva Tai

Sobre conchas do mar

Todos os dias, sob os varais, ela estendia notas musicais, até que acordaram mar, abraçadas pelo vento,no dia 11 de março.

Juliana

mercredi 17 mars 2010

Água viva

Minha mão pesava sobre a página
ao levantá-la trazia as linhas
como dançarinas guardadas.

De cada dedo assim pendia
fina linha dançarina.

Chovia, as linhas escafandristas
nas gotas,iam e vinham.

Os dedos acompanhavam
o ir e vir do mudo compasso.

Sob os contornos das finhas linhas
E as gotas, enfim, partidas:
brincavam de ser água-viva
minha muda mão e as linhas.

Juliana Gelmini 17/03/10


mardi 16 février 2010

"A rosa não tem porquê./ Floresce porque floresce./ Não vê a si mesma / Nem pergunta se alguém a vê..." Angelus Silesius


fotografia: Juliana Gelmini

Cartas guardadas



Amor,

você desmancha tudo o que existe
Como um sopro que estremece e
desfaz as linhas do mundo
a cada abrir de olhos teus.

Enquanto respiras, tudo se deita em silêncio...
há pássaros de canto dentro de tuas retinas...
cantam tanto
percebo que não posso ignorar a existência deles.
Se ninguém os vê é porque não podem
te amar como eu amei.


Quando vi, o rio já me cortava...
inundada de pó vermelho:
uma vermelhidão que se expandia em minha boca e ventre
eu urgia para que devorasse:
corpo e coração meu,
eram teus no ontem...
o ontem que habita a perenidade.

Juliana Gelmini (janeiro de 2009)

lundi 15 février 2010

E como é que o coração do instante bate?


no teu beijo.


(palavras e imagem: Juliana Gelmini)

da infância



...Você acha que os meses fazem aniversário?
acho que março faz aniversário numa música,
toda vez que a música do Tom toca, aquela das águas de março,março completa mais um aniversário.
Ele , março, estava meio insatisfeito com a contagem cronológica que deram para seu tempo, por isso me contou que escolheu seu aniversário numa música.
Eu também queria fazer aniversário numa música!
você também?!

...e quanto aos outros meses, também fazem aniversário em música ou em que?
imagina se um mês faz aniversário num pássaro
devem ter bilhões de aniversários pelo mundo!
ah não ser que sejam pássaros em extinção!
rs
será que algum mês faz aniversário em portas de armário? ou em lâmpadas? interruptores? ou sentimentos sem definição? em interrogação? no pensamento das pessoas que pensam nessa questão?


setembro me contou que sim!rs



Juliana Gelmini


(fotografia: autor desconhecido)

lundi 11 janvier 2010

Sobre o secreto sol e seus tons



CARTAS DE AMOR

"Todas as cartas de amor
são ridículas.

Não seriam cartas de amor
se não fossem ridículas.

Também escrevi, no meu tempo,
cartas de amor como as outras,
ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
têm de ser ridículas .

Quem me dera o tempo,
em que eu escrevia
sem dar por isso, cartas de amor ,
ridículas.

Afinal,só as criaturas
que nunca escreveram Cartas de amor
É que são ridículas."
Fernando Pessoa


A (im)possibilidade

Hoje eu sonhei.
Sonhei que a impossibilidade alçou um vôo possível em meu espírito e me leu. Leu cada silêncio meu, viu teu nome borrando cada pensamento em tons de suas cartas de amor de antigas promessas e sentiu-se tão livre para ser possível que se espantou de nunca ter tentado antes, bastava quebrar uma sílaba da sua coluna e lá se inauguraria outro verso.
A cidade parecia alumiar-se.
Cataventos gigantes giravam e espalhavam os tons invisíveis daquele sentimento, a palavra quebrou-se, com a sílaba perdida tornou-se: possibilidade.


A madrugada

Ele parecia estar assustado quando emergiu do sono no qual todos permaneciam por tanto tanto. Os relógios congelados em horas que nunca existiram, seus relógios marcavam a saudade do que nunca existiu. Mas o que ele não sabia era do verso que hoje inaugurou-se: a possibilidade e, por isso, as asas se debatiam dentro do menino, denunciavam seus silêncios, seu amor. Pouco a pouco, a paralisia se suspendeu e o coração da prece dela alcançou o dele.

Seu desespero empurrou suas pernas e assim, tombando em seus silêncios de antigos sóis secretos, sentiu os tons das mãos dadas as dela pelo mundo - há quanto não as sentia- mas eram tantos "mas" que desaprendeu a tentar, menos naquele hoje que inaugurava o verso da possibilidade e, subitamente, ao longo dos seus tropeços nas próprias pernas que o levavam ao encontro do seu silêncio, percebeu os seus "mas" fictícios e reais tão ridículos que riu de si mesmo e de tudo o que o mundo compreendia dos seus "mas", afinal, o que o mundo compreendia de seus "mas" e do coração da prece dela?

Correu até a janela do quarto deste coração que acordou apressado e sentia-se em verticais via lácteas  que o amor dele tanto compreendia em cada nuance. Ele, finalmente, equilibrando o coração em cima da cabeça, gritou: "eu ainda te amo" de voz muda escrita no pequeno papel. Estava assim, nas letras embaralhadas pela chuva: eu ainda te amo. O "ainda" saltava pelo seu corpo, enrolava-se em seus fios, lhe fazia cócegas nas bordas das lágrimas até tornar dormente o espírito.

A possibilidade emergindo assim tão violáctea a fazia pensar que estava dormindo, então, abriu seus olhos da forma mais aberta que conhecia e também tornou-se nítido seu maior silencio: o Amor descobrindo-se livre do destino de ser impossível, entornou-se no olhar de ambos.

Ele,depois de ter escrito o pequeno papel de um verso-mundo e rir de todos os "mas" daquele amor, sentou-se na calçada em frente a janela.
-O coração da minha prece.
Ela, então, abriu a porta e correu até senti-lo em suas mãos, pulsando.

As madrugadas de tanto tentarem silenciar um amor que nunca tornava-se mudo, rompeu seu sono para inaugurar naquele hoje o verso possível do coração da prece de um amor-mundo que em beijos mudos agora entornava seus antigos eu te amo.

As nossas mãos dadas voltaram a caminhar sobre os antigos sóis secretos e seus tons, palpáveis para os corações de preces que agora oram sobre esta madrugada e seu impossível diluído pelo Amor.

Juliana Gelmini