dimanche 30 mai 2010

canto

Queria fechar os olhos,
ver crescer o escuro, o mar invandindo as frestas,
o espanto do Tudo pintado de água
até eu mesma estar debaixo dela
nadar no vazio de existir
apenas
nadar no vazio de existir,
nua
ao lado da minha criança
sem verso, rima, ponto final ou intenção
apenas fluxo que escorre na busca atropelada do dia
que não acorde empurrado de carros e atrasos,
pilhas que não funcionam, plásticos abandonados...

Mas por canto que traga vida, 
e, assim, dela, eu asfixie.


Juliana

Vestido de gala

- Que isso! Leite na taça de vinho?
- É.
- Mas, assim, o leite vai pensar que hoje é feriado por sair vestido no seu melhor traje!

Leite: - E o que tem passear em taça de vinho? Por que eu preciso ser tinto? Quem disse que só a xícara habito? Vamos combinar assim: me derramem por ai! Pra ser de formas que nunca me vi.

         Assim fiz, o entornei por ai, como me pediu:
         - Quer saber? Aquele  vestido de taça era o mais sem graça!
         - e o que tem graça?
         - Evaporar!


E desapareceu.




Juliana , coautor: Leite da taça


E agora, Olga?

(Criação em literatura infantil)




 - Quero te dar uma palavra: Floplis.
Se não quiser, pode me devolvendo...


 - vou guardar comigo!


 - Floplis não, FLOPIS! Troquei e agora já soltei pelo mundo outra palavra...


- que palavra?


- Floplis que eu troquei por Flopis! Não ta prestando atenção não, é?


- Não. A palavra que você me deu não pára de cantar...


-Desculpe, não sabia que a Flopis nasceria tão tagarela...


- Não é tagarela! Ouve!... E então?


 - Nada.


- ... E nada também?


- Não! Disse que não ouvi nada!


- Como não?


- Vai que ela adormeceu?


- E palavra dorme?


- Claro! Até as palavras precisam do sonho ou da madrugada pra viver...


- É, mas parece que a Flopis dorme de dia!

Ela deve estar com seu relógio de palavra caduco!


- Caduco ta você, Alan! Pára de falar besteira! Eu já consertei o relógio-palavra dela antes!


- Mas que presente mais girafudo você foi me arrumar, Kifa!


- Deixa a Olga fora disso!


- Quem é essa agora?


- Minha Girafa, Alan!


- Outra amiga imaginária?


- NÃO! – respondeu Olga aparecendo da quarta nuvem à direita.






Kifa e Alan correram de susto até as flores gigantes de algodão azul e se esconderam nelas, incluindo todos os dedos dos pés e das mãos e a barriga de Alan, é claro, que só encolhendo coube.




(Dentro das flores gigantes de algodão azul)


- Agora sei como uma borboleta se sente.


- Como uma lagarta se sente, você quer dizer,né!


-Tanto faz! Ela entra lagarta neste algodão... ai, o tempo canta e pronto! Brota a asa e ela vai morar na palavra borboleta!
... Kifa, você ta ouvindo?



- ah,não! De novo isso! É a Flopis cantando?


- Não, que Flopis o quê! Esqueceu que ela dormiu! ...Kifa?... KIFA!!!!




DE REPENTE...


dos braços de Kifa brotaram asas!




 - Alan, eu ouvi! É o tempo que ta cantando! E é a mesma música que ele canta pras lagartas morarem na palavra borboleta!




Alan ficou fascinado e se concentrou no canto do tempo, só que... ao invés de asas, dos seus braços brotaram galhos e folhas e Alan foi crescendo, crescendo, crescendo... até esbarrar no teto do mundo.


- KIFAAAA!! – Gritou Alan lá de cima – E AGORA???



Kifa voou e voou e voou... até encontrar o início de Alan.



- Agora? Parece que você vai morar na palavra árvore!


- Árvore?!?! E será que eu caibo?


- Ah, Alan, caber assim... a gente nunca cabe,né! Por isso que o tempo está sempre cantando e tudo que existe vive trocando de corpo-palavra.


- É? Que doido!!... E você?


- Num tá vendo,não? ...O tempo cantou pra que eu morasse na palavra borboleta.


- Ainda estou confuso!


- é uma cabeça de árvore mesmo!






Os dois riram até que...


Cri!






Cri!


Cri!


Cri!


- Alan, que isso? Ta ouvindo? O canto outra vez?


- Não reconhece essa voz?


-... e eu sei lá!


- É a Flopis que acordou, Kifa!


 - A Flopis? Mas...
OLHA,ALAN, AONDE A FLOPIS FOI MORAR!!


...


Juntos (Alan e Kifa): - NUMA CIGARRA!!


- Ah, agora faz sentido!


- ou não!


Flopis: - Cri! Cri!... Zum!


                                                              
                                                                                              Continua...










Juliana Gelmini



vendredi 21 mai 2010

Carta à Promessa(Agosto de 1993),

Destinatário: para Juliana que serei, com carinho, da sua criança.
Agosto, 1993




Faz frio.
Tudo dorme.
O escuro adormece o mundo, menos os caranguejos... que moram no chão debaixo da cama da minha mãe e do meu pai mas só quando não há luz.
Eles estão vindo agora.
Mas quando chegam perto de mim, vão embora.
Talvez, eles também sintam medo ou teçam planos noturnos de caranguejos, contra humanos.
Minha mãe diz que eles não existem: "É sua imaginação, minha filha. Reza que passa!"
Não conto mais nada também! Aprendi assim a guardar segredo comigo mesma. E só você sabe o que eu não te escrevo nesta carta, só você.
Que bom que agora também está acordada, não me deixa sozinha nessa casa...

- Tá tudo bem, eu tô aqui. Só são caranguejos noturnos: aprenda a ouvi-los! Eles não tem planos contra humanos, apenas estão nadando.
- Nadando?
- É, o escuro é o lago, olha! De noite, ficamos todos de baixo d'água, foi o que aquele ali me disse.

Eu lembro que na primeira vez que você veio, eu tinha o mundo em mim e caranguejos-mergulhadores, por mais sem importância que  isso possa parecer pro Tudo.
Mas você me ensinou que o Tudo, na verdade, cabe num cílio. Daqueles que a gente finge que é jangada-etérea e sopra longe para ajudar que ele volte pra sua distante água-viva-natal.
Mudando de assunto, etérea é palavra tão bonita,né?

Você disse que quando os caranguejos voltassem, pra não rezar não mas te escrever uma carta que ai, você viria para gente se divertir no nosso escuro de baixo d'água com caranguejos- mergulhadores que tanto sabem nadar - descobri que também bóiam!- e,alias, estão te mandando um beijo-beliscado.
Cadê você? Anda logo, antes que a escuridão seja pintada e os caranguejos com ela durmam.

Plano J:
Por que você não casa com o Tempo?
pra nunca mais ir embora daqui ou eu nunca mais daí voltar!


com carinho,


da sua criança-Juliana, Agosto de 1993.

vendredi 14 mai 2010

Era uma vez desnacido

Era uma casa muito engraçada.*
Boa pra desnacer.
Num 1/4 e 3 quilômetros do ontem, desnaceu casa para ser nuvem.
Lá de cima do teto-etéreo,torceu  sua cor recém-inventada em gota d'água de livre vôo.
A abracei com as linhas do meu rosto e as pendurei no vazio.
Assim, acordarão: rio-horizonte desnacido.



Juliana



*inicío do texto dado em aula (com proposta infantil) para que desenvolvéssemos.