lundi 15 octobre 2012

Uma história de ilustração





Guardo aqui a história do nosso cartaz!


Uma história de ilustração 
Poema: Fábio Santana Pessanha 
Ilustração: Juliana Gelmini 


  

samedi 13 octobre 2012

Chumbo



Mas é tanto pensamento desfiado de um lado pro outro e no meio deles,as vezes, teu rosto,as vezes, teu beijo,as vezes, um nunca mais que eu escrevo rápido por cima e a palavra vai se apagando como uma água que encontra um giz fraco e o que fica mesmo é o sonho. E no sonho, fico de olho colado pro céu, e o medo faz o céu diminuir em cima de mim, e se eu ficar segurando o céu sozinha? Justo o céu que era coisa feita pra ficar encantada, agora me esmaga assim,num susto? E o céu vem baixando todo de nuvem pesada, parece chumbo que me esmaga, esmaga,esmaga. E fico pensando se é assim que tudo vai ficar se eu seguir o que eu sinto e o que eu sinto? E o que eu sinto? E o que eu sinto? Fica repetindo cada nuvem,baixando,baixando, baixando em cima do meu peito que emudece ouvindo a voz do sonho...


[Rodopia, rodopia, envolta em lençóis brancos, rodopia, lua, vulcão, cratera que se abre dentro, não quero os caminhos retos da certeza, quero as curvas, as rodas, rodopios, uivos, música, desrazão, ser apenas, todo ser, quero a lágrima quente e torta se erguendo tímida quando a dor parece imóvel, se lança ao mundo, encontra pássaros, loucos, automóveis, a gota se esquece da dor, se perde no corpo do mundo, se ergue na terra como flor, ,água, deita teu ouvido em meu corpo e escuta. Quero ao teu lado ser madrugada, apenas ser, incerto, entregue ao teu.Angústia, quero tomar em meus braços  cada abandono, torná-los puros da dor...]



dimanche 17 juin 2012

Prece



Encosto minha alma na tua,
silêncio no corpo da tarde.
Do coração do tempo,
teus cílios, aos poucos, se abrem...

samedi 12 mai 2012

O encontro das margens

para minha avó

A terceira margem do rio, para minha avó.


vó, 
o Guimarães Rosa me disse uma vez que "As pessoas não morrem,elas ficam encantadas.". Me entrelembro agora... você decidiu,um dia, ir para este pequeno barco cuja existência guardo um retrato apenas, lá ficar, até o dia de me buscar também para dentro dele... como deve ser lindo deitar novamente azul na tarde sem nuvens da tua presença.Você nem percebeu quando bati este retrato do teu barquinho sem nuvens...estava tão bonita.

vendredi 27 avril 2012

samedi 21 avril 2012

Sala roxa

Eu falo palavra, 
surge:
pássaro,
flor,
pedra,
lagarto
não é belo?
tudo surgindo, de repente.

No espanto, ontem,
me vi surgir
nas tuas mãos -palavras...
giros
sinos
tudo o que fala,vai surgindo...
eu,
teu quarto,
nua.

[Só quando repousam no amor
podemos espalhar as palavras
na alma do outro...]
Encontrei uma borracha em abandono no chão azul.
Ela me contou que fazia de conta que era pedra no fundo do mar.

Vi Manoel de Barros no meu olhar.

dimanche 18 mars 2012

Psicologia de Hidrante

Hidrantes  tímidos tentam disfarce com blush em praça pública!

Morada literária


Penso que o fascínio maior, quando se trata das moradas literárias, é o espanto do escuro inicial do espaço a ser invadido de uma voz ainda desconhecida e esta, ao narrar, ir, lentamente, construindo cada porta, e, às vezes, no meio da construção, ainda conversar comigo, ou então, me ignorar e fingir que não existo, mais ainda que essa voz, feita das palavras num papel, me ignore, nunca diminuirá o espanto do escuro inicial que, lentamente, se preenche de luz.

lundi 5 mars 2012

O curioso caso do álbum de retratos do Sr.Tintafresca, o polvo da meia



 Sr.Tintafresca, um polvo em miniatura, morava numa meia e tocava um instigante instrumento feito de unha do pé de centopeia com corda de ideia, nomeado  Unhão. Deste treco assombroso, brotava um som redondo que soltava balões finos, quase transparentes. Somados à sorte de serem pequenos, atravessavam a trama da meia e, pelo vento do lá, se iam. Dona Vixe Maria, pomba cheia de pompa com topete do Elvis, famoso artista, um dia pompanou:
- Sr. Tintafresca, olhe lá o que toca no seu Unhão!

-Ora, Dona Vixe - disse Tintafresca arrumando o topete da amiga com a gosma de uma ventosa- não se preocupe! -  E logo pontuou a sua própria testa com sobrancelhas incertas, como de costume.  Voltou para casa,então, decidido a pôr em prática seu mais incrível plano. Mas, como morava ali mesmo, deu passos de tentáculos suspensos só para ter a  aventura de imaginar que atravessava uma rua infinita. Ainda por cima, aproveitou para colar no seu cenário imaginário, alguns calabouços e  vulcões extintos. Até atalhos inventou, só para se perder mais um pouco,mas, finalmente cansado, de súbito, deu com a cara  na porta da sua meia que nunca dali saiu! Saudoso, correu  até o ármario,com todo o plano em mente. Pois lá estava, enrolado numa capa de chuva preta, o enigmático álbum fotográfico com retratos de palavras vivas!  Tintafresta,o minipolvo,  escolheu a tentáculo uma delas. Num quase de repente, pensou na palavra "Certeza", mas logo de  tédio desistiu," Que graça  essa tem?". Catou mais fotografias desse  álbum  velho  de capa, mas não do que guardava, pois cada palavra lida, se espichava num "quem diria!"!
-Oh, que coisa linda!
- Vixe Maria, o que faz ai?
Sem saber como explicar o álbum, dividiu com a pomba amiga o tal plano que nem ele  mesmo, ao certo, sabia! 
 Tintafresca teimoso, junto a Vixe Maria, catou o retrato 3x4 da palavra mais comprida. Dai, iniciou a conhecida melodia do Unhão, até deslumbrar o balão fino e pequeno,quase transparente, que sempre se formava de repente, mas,dessa vez,rapidamente, para dentro dele, empurraram o tal retrato da palavra comprida, sem saber no que daria. A palavra se remexeu toda, quase virou outra, mas antes de tal acontecimento, no lá se foi, para além da trama da meia de Tintafresta,deslumbrando Vixe Maria com tanta luz!

-Qual será seu destino? - exclamou  coçando o topete.- Qual será seu destino?


Neste mesmo dia, do outro lado do mundo, houve um estouro, e logo se soube: nasceu um Ornitorrinco!



mercredi 22 février 2012

Lá pelas tantas

Dois mil e doze é um ano de rima, imã para boa sina, o dois e o doze  saem  de mãos dadas por ai, ligados  em mil volts. Passeam por tanto querer esses dois, não aguento mais o tão dos truques de mágicas que inventam juntos. Se trocam de lugar, às vezes, eu nem existi, um dia,bem chegaram  dizendo que eram ano doze mil e dois, só para me contar aquelas prosas que,lá pelas tantas, o mundo já se foi, cabum,ainda por cima o número um depõe como testemunha convicta, jura que sim com apocalipse e tudo, eu mesma não acredito. Sério que  você acha que vou dar papo furado para número que tem zero a esquerda ao lado?

... Mas é claro! Fica a dica, enquanto os números dançam e trocam de ano, não esqueça, antes da evaporação de tudo lá pelas tantas,enfeite seus pontos finais de vírgulas e deixe apenas as exclamações na sua vida!
Brega assim!rs


Ass.: 2012,1202, 2210...

samedi 4 février 2012

como escapar?


Beatriz, dez anos, nas férias de janeiro, passa uns dias com sua avó, senhora enfeitada da espera da neta. Hoje à tarde, Beatriz arrumou suas malas, algumas roupas, dois ou três vaga-lumes para a vó, nem dormiu, mas não era ansiedade, os gritos foram arracando-lhe os lençóis, como vultos a tocarem seu corpo, os vultos misturados de palavras vindas do corredor. Beatriz correu, precisava se esconder, fechou os olhos,então, lá, no abismo, deu suas mãos, não saberia dizer a quem, abriu os olhos e voltou à cena, suas roupas estavam espalhadas pelo chão do corredor, em câmera lenta viu sua mãe, o que será que está acontecendo? Por que minhas roupas ao chão? Por que minha mala aberta? Porque minha avó em cada canto da casa? Caiu, o burraco do sonho repetido, queda livre, azul, azul, dentro da sua dor, aumentava,então, o tom da voz dela, por que, mãe, o grito? a mala aberta? as palavras atiradas?
as roupas sentadas em fileiras, me olhavam:
-Menina, por que o choro?- me disseram em coro e tudo rodou.
Da boca da minha mãe o sangue ainda se espalhava pelos móveis, as palavras abertas estiradas invandindo-me,
como escapar? como escapar?




Radiohead - Exit music

dimanche 29 janvier 2012

O encontro

Sentada na pequena mesa da rua de Botafogo, a ansiedade me invade. De repente, me acomete que ela também poderia estar. Em meio a tantas pernas, seus passos estalariam no chão, seu cheiro se enrolaria em meus fios numa dança secreta apenas visível para nós duas. Poderia ser aquela senhora mais ao longe, com seus tons alaranjados de quem é etérea e toca na plenitude da alma do ser,não, não era ela. E se fosse, reconheceria meus olhos presos neste corpo que agora parece-me outro apesar de todos o apontarem como meu? Conseguiria salvar, em meio a tantas linhas que se delinearam outras, o modo como respiro e como meu coração plana? Ela sabe o modo como meu coração plana: nos mesmos acordes que os seus, como uma música oculta do mundo externo que apenas sob a camada do nosso amor se tornava linguagem compreensível. Eu sei o que meu silêncio lê, o meu silêncio lê o seu amor, vó. E um entregar-se ao teu colo até adormecermos assim no sonho uma da outra, conscientes de pertencermos ao mesmo mundo.



                                                                             Para minha avó.
                                                                             (janeiro de 2009)

samedi 28 janvier 2012

trilha de trem

A música abre os salões aos poucos como se nunca houvesse portas, corro por todas as palavras que dançam sobre os corredores, rindo como insanas, mãos dadas a cada nuvem, ouço agora o teu coração, meus pés sentem calmamente o não que guardou ontem em baixo do pouco troco. Aquele já mofado em cima da cadeira, enfeita a tarde de um podre azul, aquela voz de novo em meus dedos, como me livrar dos gritos dos finais de anos que nunca esteve? Vestidos lilases acenam das varandas que nunca pude visitar, enfeiam a cidade de seu luto oculto, passeio agora por todas as tuas lãs, escolhidas a fio para mim, me rebubino então, ainda embolada como as antigas fitas, enfio o lápis cego em meu corpo para desembolar as cordas, as cordas todas que tanto me cegam, as cordas que olham para o céu azul, para o sol no canto dos lábios, as cordas que apontam teus traços, os borrões de risos entre as nossas mãos dadas no final de tarde em lugares estranhos como Bolívia, eu quero a vida, na trilha de trem, com o barulho dele vindo da ilusão.







Sur le fil - Amélie Soundtrack

jeudi 26 janvier 2012

Primeira vez



Pedro agitou cada fio de pensamento para inventar jeito de tocar música novamente dentro do coração de Lúcia, ela como se dançasse para sempre, por dentro, agora mais parecia de asfalto ou engarrafamento, Lúcia sofria de alma encolhida, epidemia dos últimos tempos, essa doença não dava por mosquito ou espirro, era quase invisível, menos aos meninos poetas como Pedro que, naquela manhã, despertou em palavras uma flor feita de fios de vento. Nem assim Lúcia reparou. Pedro agitou mais pensamentos, sacudiu da orelha um cometa inteiro, nada adiantou. Pedro, então, deu um passo para frente do medo e ficou tão perto da menina que sentiu como uma a respiração dos dois. A música,então, tocou, como se dançassem para sempre, exatamente como na primeira vez.

dimanche 22 janvier 2012

As janelas que não existem invadidas de pássaros,
teus.

Águo

Faltam dois dias para você me conhecer.

Lembra do que a gente combinou:
você se sentará na sala de música,
fechará os olhos,
os abrirá de encontro a minha voz,
abraço de almas.
Pássaros atravessam as janelas que não existem.
Teu beijo sobre as paredes finas de sonhos,
 vestígios de vidros se beijam sobre o chão de chuva.
Abro-me nas mãos do Tempo e, enfim, te vejo, nítido.
Vento ao teu lado, emoldurados nos olhos de Deus.
A pressa dos passos passam, eu calma nos teus braços, águo.