dimanche 28 décembre 2014

Domingo

Ajeitei meu cabelo com um pincel, o maior que tenho, lembro de quanto tempo não pinto com ele, ao lado direito do meu olhar, duas caixas de aquarelas, algumas bisnagas de tintas já moídas de tanto que usei, sim, o tempo em seus corpos metálicos, são meus dedos que as apertaram, acho bonito os objetos que se doam as nossas mãos, de forma que possamos tocá-los, eles não sentem medo de como ficarão,  apenas se entregam. Agora com um pincel entre meus cabelos,presos, alguns fios se arriscam entre o vento que não cessa, nada se move em volta, apenas por dentro. Aquela música incessante voltou, ela me conta da minha verdade, nem sempre a minha verdade pode existir junto com o que esperam de mim, não, sou muito menor que isso, e queria mesmo poder alcançar os pássaros dos olhos da minha amiga, pois é exatamente assim que ela me vê, um pássaro, acredita? Disse pra ela que nunca fui, ela teimou que eu era e que agora estava diferente, mas não, era o olhar do amor. Você já reparou como o olhar do amor mergulha o que existe em magia? Eu virei pássaro aos olhos da minha amiga, e agora sou acusada de não saber mais o antigo voo...  Eu quis vir aqui para me desabotoar, reparou que tinha muito tempo que não escrevia? Andei sendo feliz por esses dias, me enfeitei de libélulas, me enfeitei de palavra que sonha e alguns espirros que não me deixam. Se você acha que alguém não pode se enfeitar de espirro é que ainda não entendeu a linguagem secreta do vírus, ninguém ainda conseguiu traduzir em todo seu estado de completude a palavra atchin, eles me contaram, digo, o vírus que me habitou esse ano todo me contou, mas eu disse que manteria segredo, se a porta não abrisse nesse exato momento "Você tá bem?". Meu nariz coça, qual seria essa comunicação? acho mais fácil traduzir sinal de fumaça, nem sempre eu entendo o vírus, então, vou desistir, porque desistir também tem suas belezas. E deixo a água invadir o quarto, não é belo? Essa água que agora nos cobre até os joelhos,borra as letras dos meus livros, os nunca lidos, mistura as cores dos lençóis, embola minhas angustias, deixa a água invadir, até que todas as libélulas presas se sintam inquietas e se livrem de mim. Eu gosto muito de escrever, sabia? Aqui, sinto que sou realmente livre! Se eu quiser ser pedra, eu simplesmente posso ser e ficar no estado de pedra encantada até o tempo me acordar em outra criatura, gosto de visitar esse lugar, espiar as palavras, chamá-las para morar comigo, dentro de uma pequena história, fio de mim que nunca ouvi e vou deixando fiar assim sem pensar direito... quem sabe minha amiga não tinha razão: e se eu realmente tiver sido um pássaro que esqueci?
Tudo muda....

jeudi 25 décembre 2014

o sonho

Era uma ponte, comprida e bamba,
Diante dela, um gigante.
O passo adiante, a ponte balança,
mas o gigante corre, a madeira abre,
o gigante segue, olha pra baixo,
o abismo salta pra dentro dos olhos,
pra dentro do estômago, pra dentro das horas,
mas a vontade soca o medo,
o gigante segue, em sua ponte torta até o outro lado da história....

lundi 8 décembre 2014

Minha vizinha ou Via láctea contada por uma flor


Há uma rosa que se lança com seus vermelhos para minha casa, como se fosse mesmo um amor a nos olhar. Penso que é sempre bom ser amor como aquela rosa é, e é isso que ela me ensina todos os dias. Ela gosta de ultrapassar as grades, se erguer para além daquelas fronteiras e se suspende, brincando de vento, para me olhar. Eu e ela nos enamoramos, e vim escrever essa cartinha para ela antes de voltar a namorá-la de silêncio da minha janela. Acho que é um amor de irmã, sinto que a sua existência continua dentro de mim, seu vermelho me invade e me pinta também, de amor, de amor, de amor.
Eu entendo a sua loucura de querer se lançar para além do jardim, ela quer sentir! Pois posso entender seu pensamento no pensamento, a esperar a lua, pupila da madrugada. Pois essa rosa também é astróloga, na minha solidão, dei para contar-lhe todas as minhas investigações sobrenaturais da influência dos astros. E, ontem, quando o mundo desabou dentro do meu quarto (ainda está tudo bagunçado, com pedregulhos e meteoros que pulo para poder aqui entrar e escrever no computador) - imagine ao olhar para o lado vejo metade da minha casa desabada, mas a rosa também vejo, no lá que tanto parece perto, parece lado de dentro, sinto seu cheiro. É doce, mas sem enjoar, com quem anuncia afeto no mundo.
Mas quando em minha solidão lhe contei os mistérios do universo, essa rosa desaprendeu sobre signos astrológicos comigo. E ontem, como dizia, com o mundo se abracalando dentro do meu quarto (apenas), ela observava do outro lado da janela a invasão de cometas, bombas d'águas, flores silvestres a desabar em cima da minha cabeça, e eu aceitava... chorando doída. O gosto intenso da vida às vezes nos rasga? E me abandonei.
À noite, quando a cabeça dormia mas as ideias não, ela veio e disse que sabia o motivo daquele tormento celeste, eu fiquei em silêncio, disse que a lua dessa noite estava em câncer, eu sorri, ela disse também que a lua é a pupila da Madrugada e que ia pedir para essa noiva louca do escuro fechar seus olhos só por ontem.... para que eu também pudesse esquecer. E assim, dormi. Hoje, a rosa de vermelho me ofereceu um silêncio no qual morei (ou morri?) o dia inteiro, não sabia o quanto seria belo se vestir do silêncio de uma rosa, me orvalhou. Ela contou das árvores...  ensinou  que os troncos das árvores mais fortes precisam de espaço para respirar, sem esse silêncio os dois morrem, por mais que desponte a saudade de ser céu.



samedi 15 novembre 2014

Amor: "vaga-lumes driblam a treva" (Manoel de Barros)

Sim, a esperança existe!
com minhas mãos quentes de amor
posso dizer: GRATIDÃO!!
Acho que minha sorte voltou!

Turma 2210,
guardo comigo o dia de hoje 14/11/14, vocês  me fizeram sonhar, mais uma vez. Eu achei que tinha esquecido como se sonha, achei que tinha esquecido como se acredita que a mágica existe, mas vocês vieram e me ensinaram a ser esperança, sempre.
Toda vez que pensar em desistir, lembrarei deste dia... e a leveza que amor abre nossos olhos... de mãos dadas, invisíveis, seguiremos pelo caminho que for, não importa o tempo que passe, vocês seguirão comigo! Vocês são muito especiais, é sincero  que digo! Amo vocês!

"O amor que eu sinto é um afeto tão novo que não deveria se chamar amor" (Moska)






"Nenhuma palavra ou gesto de amor se perde no tempo" (flor)


Este dia foi gravado pelos alunos no vídeo (link abaixo),
me emocionou, mais uma vez. Amo vocês!
in:



jeudi 13 novembre 2014

Manoel e o rio

Hoje, Manoel de Barros se foi
para a terceira margem do rio, como conta Rosa, Guimarães Rosa, 
e enquanto existir na canoinha de nada de alguém - que é a memória, 
ele estará vivo.

Para Manoel, Manoel de Barros

Para Manoel, Manoel de Barros

Encontrei uma borracha em abandono no chão azul.
Ela me contou que fazia de conta que era pedra no fundo do mar.
Vi Manoel de Barros no meu olhar.

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Como crescer pra passarinho agora?
Como descobrir o sonho do silêncio?
 Como guardar peixes no bolso?
 Como carregar água na peneira?
se ele não está
se ele não mais está

Como descobrir meu olhar fontana?
Como o inseto ser maior que o sol?
Como passear de rio inventado?
Como voar fora da asa?
Se ele não está
se ele não mais está

Sim, as pedrinhas do meu quintal serão sempre maiores
que as do mundo,
 justamente pelo afeto.

Sim, é preciso transver o mundo!
puxar o alarme do silêncio!
ver noiva camponesa voar como em Chagall!

Sim, você me faz sonhar, Manoel,
sim, as palavras sonham,
sei que  o nome empobrece a imagem, como você me ensinou.

Mas há uma palavra deitada por dentro do meu olho agora
ela te olha como quem quisesse contar
um tom de nuveflor, mas a flor de espinho,
a abandonada.
ela te olha como quem quisesse dizer da infância da formiga,
da água no coração delas...
catar os desperdícios todos para te entregar por esperança
sim, a esperança
de te convencer a ficar...mais um pouco...

Essa palavra aprendiz de girassol
é feita de uma forma que parece amor, mas  não é
 é maior.
Te abraça, agora, silêncio.

(De: Juliana)



A cineasta (e confidente literária rs) Ana gravou a declamação desse poema na turma 205, levo comigo essa memória enfeitada de afeto!
in:

dimanche 9 novembre 2014

Eco

II
Quando criança, ele guardava palavras de eco, escritas de luz e sombra. Era uma caixa repleta desses sons enfeitados de solidão. Alguns achavam que a solidão não era feita para enfeitar e ele ria, como quem guardasse um segredo. Ela procurava por encontrá-lo, há anos não o via. Encontrou o endereço de sua casa numa carta antiga, da infância. A saudade foi desembolando os nós dos pensamentos, nudez do medo. Decidiu visitá-lo, para lhe entregar sua caixa ecoada. Reabriu a carta do "só abra se você quiser voltar", descobriu um mapa. No canto direito amarelado, um botão de camisa velha pregava o coração do mapa.  "Aqui é lugar onde nos casaríamos", a legenda explicava. Os rios inventados de palavras das conversas que eram diárias... tudo passa. Quem seria ele hoje em dia? Os porquês não pediam resposta, a memória de seu cheiro entrou entre um medo e outro equilibrando-se. Seguiu os caminhos tortos, prestes a desabar em lá e  entrou no coração do mapa. Havia ali uma casa abandonada, feita de cartas, palavras borradas pela chuva, pela espera. Ela andou devagar, em direção à música que o vento inventava entreaberto na porta, histórias a ranger nas iluminuras da madeira velha. As janelas empurravam as cortinas para fora, eram compridas, compridas e finas, tecidas de água. O abandono da casa lhe fizera bem, ela pensou. E como um mar em ressaca, as cortinas lhe molharam dos pés a cabeça. Sacudiu o corpo, apenas o corpo, os afetos ainda ostravam-se. Também aberta de águas, a caixa de ecos que a menina segurava deixou escapar  "Quem aí está?"  Quem aí está?"

samedi 8 novembre 2014

sal

I
A cena era cotidiana, ela voltava para casa depois de um dia de trabalho, o sono pendurado nos olhos, as pessoas embaçavam em sua vista cansada, o dia empurrava uma série de tarefas adiadas, outra madrugada virada "será que vale a pena?", ela pensava quando desceu do ônibus e caminhou até sua casa, era um caminho mais repleto de escuridão do ultimamente. Na verdade, ela nunca tinha reparado o quanto aquele caminho era feito de escuridão, escuridão pendurada das árvores, nos cantos dos bueiros, espalhada na solidão das ruas tortas, feitas das mesmas pedrinhas daquela música antiga que sua avó costumava cantar para dormir, como era mesmo? "Se essa rua, essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava, ladrilhar, com pedrinhas com pedrinhas de brilhantes para o meu , para o meu amor passar." Cantou baixinho como quem desabotoa um alfinete de dentro do peito. E sangrou a esperar que algo de novo acontecesse, nem o silêncio estava, pois uma série enfileirada de pensamentos vinha e desvinha em seus passos,a rua parecia mais enorme, cada dia mais enorme, "será que as casas vão tombar?", as casas se inclinavam como quem balançasse de vento, mas não ventava por lá. Há anos tudo parecia imóvel, se não fosse pelos gatos que subitamente surgiam ao longo do caminho por debaixo de um carro ou de sua carência, ela acharia que caminhava numa rua de papel, cenário prestes a desabar de medo. Mas ainda pousava esperança naquelas ruas, como um beijo que pendurava os tecidos de escuridão para secar de amor...
Entrou em casa, não acendeu as luzes , queria experienciar os tecidos de escuro que desciam do teto e balançavam de afeto. Ela esperava por algo que acontecesse, uma carta, um telefonema, uma pessoa nova que fosse conhecer, mas só ouvia uma goteira constante a estilhaçar na pia da cozinha, "Vai que vira um rio?", a esperança cismava de enfeitar o pensar da menina. Mas naquela dia específico, talvez tenha sido o único brilho. O cotidiano parecia feito  sal. A janela se misturava ao aberto do céu, a noite queria crescer para vaga-lume, mas o medo despontava as preocupações. Tocou uma mensagem no celular,  a expectativa, "Não liga, já te expliquei tudo ontem.", o estrondo antigo. Então, era isso, a porta só estava entreaberta para ela, e ele visto pelas frestas orvalhava saudade... o céu tombava, tombava, tombava, mas ela nada sentia, não fugia, não fugia, em alívio voaria-se.


jeudi 23 octobre 2014

Desabotoar-se

 Sinto um nó que não desata, bisbilhoto-me: botão aberto para pouso. Há um ponto que nunca pontuo. Descosturo-me de teus pássaros, desaprendo o violento voo.  À luz da imaginação, as goteiras respingam a memória de teu rosto. É você? "É você?", eco, sombra epifânica da ausência. Engulo ca(fé) à seco, vai passar, vai passar. É esse o risco de ser mar...

lundi 15 septembre 2014

Lentamente, o céu descasca sobre meus pés, o mundo pontacabeçagira, meu umbigo explode em faíscas que compõem teu rosto, em faíscas que compõem o esgoto, em faíscas que compõem o não ser, e o ser fica a espera de, marcado de olfatos da memória... teu rosto reaparece, reaparece...
o relógio iluminado  esquecia dos ponteiros por alguns instantes, ela agora observa os pensamentos em dança incessante, de dentro. "Ele fazia de propósito! Buscava erros em seus gestos!", os pensamentos diziam, sacudia a cabeça, a menina, na tentativa breve de fazer com que eles se esvaíssem,mas voltavam como lumes  em meio a movediças nuvens...

samedi 6 septembre 2014

Poema se prova

poema deitado
na mesa cirúrgica
para análise
para prova
para morte (que vale dez!)

mardi 22 juillet 2014

Raízes



Quero deitar-me na certeza
dos teus olhos.

Quero deitar-me em tua boca,
abrir teus sonhos.

Quero ser um cheiro da memória
a acordar teu corpo na manhã do agora
cordas de sol  desafinam a espera
ergue teu beijo em meu corpo
flores que nunca foram nossas

A saia se agita nas mãos do vento
os fios se deitam entre azuis
Tuas palavras de silêncio apressam
aquilo que não sabemos dizer.






samedi 12 juillet 2014

Azulejando


Azulejando...

O beijo



O beijo...

Vestígios de um amor....



Vestígios de um amor...

Cavalos-marinhos...




Cavalos-marinhos...

"E o vento vai levando tudo embora..."

Choro, 
nem sei porque choro
apenas sinto!
Sinto como se fosse explodir
meu peito
vermelhos
 preciso sempre sempre sempre me abafar
Nunca posso apenas ser! Apenas sentir! Apenas sentir e explodir como meu coração pede para que seja! Entrega!
Esse silêncio ao meu redor...a solidão  não responde meu olhar
 os sonhos que lhe entrego....a olho como quem acredita que pode me abraçar,
mas seu abraço sufoca!
Mesmo assim, permaneço em seus braços...
e me desfaço,
mais uma vez!
Areia,
Grão,
Poeira,
Ilusão de ser!
Não consigo me adequar ao ritmo do mundo: eu sinto! 
E esse todo descompassa meu olhar ávido de cores! Ávido de cheiros, como Alberto Caeiro me ensinou... O meu olhar aprende a desinvenção dos sonhos que teço... para não sufocar:
sou Mar em busca de Pouso.






12 de julho

Na janela, minha pássara está inquieta, olhando de um lado pra outro, e não me conta o que é. Como eu queria abrir seus medos e enfeitá-los de sonhos calmos, enfeitá-los do meu afeto.



mercredi 25 juin 2014

Blogger Palavra para incorporar: percursos de escutas e (re)escritas




Este blogger é um espaço aberto para meus alunos como memória dos percursos de escutas e (re)escritas, tendo por intuito a publicação virtual das criações em sala de aula.



In: http://palavraparaincorporar.blogspot.com.br/









mardi 24 juin 2014

Minhas fotografias são mentiras

Minhas fotografias são mentiras. Cadê a gargalhada e o dente torto? Três ou quatro vaga-lumes no olho? Palavras espichadas espalhadas pelos cabelos? Cadê sua voz  sendo cosquinha no meu rosto? Cadê meus pássaros todos?

lundi 16 juin 2014

Teu nome

Teu nome:
 meu coração estreme-céu.




A construção

Os barulhos da obra (me) ferem,
mas a casa ergue.

Entre os andaimes de palavras,
o Martelo orquestra o verso.

Dentro da minha cabeça,
sinfonia de ruídos
acorda o poema
balde, areia, cimento
e as vozes dos operários,
poetas?

Disfarçados, constroem a casa
ao lado de minha janela,
o barulho do Martelo (me) aperta
o barulho do Martelo (me) segreda
sonhos bruscos de tinta e pedra.

O (des)concerto recomeça:
da janela, espio a fresta,
 parece um quadro de Tarsila,
corpos de mãos e mas nos rostos,
 os pés desnudos.

A fresta recorta um som espiã
desvia o olhar em busca de onde
o Martelo fia o cinza como atira
o verso "Mas teus olhos precoces",
"de medo", outra vez, se esconde.

Ouço as tentativas, da primeira a quarta,
o Martelo,entre os andaimes da casa,
fere outras palavras e "de medo" escapa.

É a última estrofe, o cimento gira,
na verdade, é a palavra cinza moída:
botão de estrela na barriga do trator.

Os ruídos (nos) tecidos da casa
perfuram o nunca das paredes
sonhadas; perfuram os pássaros
de água e o mar invade as frestas, só,
 a construção de areia  estreme-céu.

A palavra cinza escuta o estrondo:
o Martelo estala  "de medo",
o barulho cessa.

 A casa pronta de espera, declama,
 enfim, o último verso, porta aberta,
 "Mas teus olhos precoces de medo,
 não percebem.".

dimanche 15 juin 2014

Juramento: a palavra viva em sala de aula

Quero que nossas aulas nunca sejam aulas, mas sempre encontros, encontros vivos feitos de palavras com presença no sagrado, como minha irmã Bianka Barbosa diz. Palavras vivas para incorporar ao ser. Quero que sempre possamos compreender o momento  de escuta e de fala, com respeito e afeto com os olhos abertos de vida. Sobretudo, que eu seja uma professora comprometida com o ensino para a sensibilidade que possibilita a experiência da espiritualidade do ser. E  peço à espiritualidade para que sempre me conecte com as intuições certas sobre as vibrações das almas dos meus alunos, de maneira que eu possa levar a palavra precisa no momento aberto. Que cada aluno meu possa sentir essa vibração de afeto e também se dedique à construção deste percurso para modificar o mundo. Vocês ressignificam a minha existência! Percebo que eu realmente amo ser professora, amo meus alunos, quero e vou fazer o melhor curso que eu puder oferecer em nossos encontros, sem nunca faltar respeito, afeto e palavras sinceras abertas de vida. Peço para que  seja justa com as correções e não esqueça de ser eu mesma, não me anule em prol de um sistema mecânico e opressor. Mas  sempre recrie o que existe de maneira lúdica, para aprendermos sim,mas sendo felizes juntos. Assim seja. Este é o juramento.

vendredi 13 juin 2014

mas teus olhos precoces de medo




Daqui posso ver teus gestos
olha o céu dentro do aquário
dentro do ainda, água-viva

os peixes deliram cores
o ar rarefeito seduz a morte
o coral se quebra sem norte

a água-viva se lança ao mar
de encontro ao meu corpo, mudo
os corações se cegam.

o colorido pisca dentro do aquário
Mas teus olhos  precoces de medo
não  percebem

as luzes ascendem  meu peito
o aquário te entorna, devaneio
de águas, silenciosas asas.








Insônia

Insônia
quando o cansaço soca o sono.

mardi 3 juin 2014

A árvore florida





Tentativa de reconto do conto contado por minha mestra Ilana Pogrebinschi



Há muito tempo atrás, em um vilarejo, viviam duas famílias: uma muito pobre e outra muito rica.  A mãe da família muito rica tinha um casal. A mãe da família muito pobre tinha duas filhas e precisava trabalhar muito para poder sustentá-las.
Um dia, as irmãs inconformadas com o fato de sua mãe trabalhar tanto,  decidiram que tinham que fazer algo. E então a irmã mais nova teve uma ideia
-Irmã, se eu te contar um segredo, você promete que não contará a ninguém?
E a irmã mais velha prometeu que nada diria. Então, a irmã mais nova revelou:
- Eu posso me transformar em árvore!
- Como assim? - disse a irmã mais velha.
- Basta que você siga tudo o que eu te falar, com muito cuidado.
Pegue dois baldes com água limpa, disse a irmã mais nova, verta o primeiro sobre mim e eu me transformarei em árvore. No estado de ser árvore, suba sobre meu tronco, com muito cuidado sempre para não machucar nenhum galho ou folha e colha todas as flores azuis que puder. Quando acabar, verta o segundo balde de água limpa sobre mim que eu retornarei minha forma humana. 

A irmã mais velha ficou empolgada com a ideia, concordou prometendo seguir passo por passo e tomar muito cuidado.Assim foi feito.  Quando a irmã mais nova retornou a sua forma humana, elas tinham flores e mais flores azuis. Foram até o mercado vender as flores para ajudar a sua mãe que tanto trabalhava.

- Flores! Quem quer flores? Flores! Quem quer flores azuis?


A mãe da família rica que passava por ali  com sua filha decidiu levar algumas flores azuis para sua casa, pois estavam muito bonitas e vistosas. E as levou para casa, arrumando-as em sua sala.

Quando o irmão da família rica encontrou as flores azuis, não conseguia parar de olhá-las, fascinado, hipnotizado por tal azul, pela vibração misteriosa que emanava daquelas flores. Ele não conseguia parar de pensar nas flores, seu pensamento era todo desejo das flores azuis. De tal maneira que foi perguntar a mãe onde tinha encontrado aquelas flores. A mãe contou que foi no mercado, de manhã, comprou de duas irmãs.
No dia seguinte, o irmão foi até o mercado, obstinado.
 Encontrou as irmãs e decidiu levar todas as flores azuis que vendiam. As irmãs ficaram muito felizes e voltaram para casa com o dinheiro das economias para ajudar a sua mãe.

 Mas o rapaz estava tão fascinado pelas flores que ele precisava conhecer sua árvore. Então, seguiu as meninas no seu caminho de volta para casa, mas o caminho era tão longo que, quando chegou até a casa das irmãs, adormeceu no jardim.


Ao amanhecer, o rapaz não foi notado pelas irmãs, talvez, por estar atrás de alguns arbustos e, assim escondido, pode descobrir a transformação da irmã mais nova em árvore das flores azuis.


 Voltou para casa apaixonado, decidido a se casar com ela. Contou para sua mãe que, por nunca lhe negar nada, concordou e foi conversar com a família da menina. Marcaram já o casamento que aconteceria, em breve, na casa da família rica. Assim foi feito.


Na noite de nupcias, o rapaz fez um pedido íntimo:

-Esposa... será que você poderia se transformar em árvore para mim?

A menina ficou muito assustada, ninguém além de sua irmã mais velha sabia de seu segredo! Mas, olhou dentro dos olhos do marido e  confiou nos seus sentimentos, concedendo-lhe seu pedido. Assim, explicou passo por passo tudo o que o marido deveria fazer:

- Vá até o rio e pegue dois baldes de água limpa. Verta o primeiro sobre meu corpo e  me transformarei em árvore. Com muito cuidado para não rasgar nenhuma folha, não machucar nenhum galho ou fruto, você poderá subir sobre mim. Depois, verta o segundo balde de água sobre meu corpo que eu retornarei a minha forma humana.

Mas o marido estava tão mas tão extasiado que não prestou atenção em nada que a esposa falava. Então, verteu o primeiro balde sobre a esposa e se deparou com aquela árvore imensa e frondosa de flores azuis! Ah, ele ficou enebriado, e saiu subindo pela árvore, se deitando por todos os galhos, provando de todas as frutas, arrancando suas flores, em êxtase! Como era linda aquela árvore! Como eram azuis as suas flores!  E foi se  jogando entre sua copa, de maneira que quando desceu da árvore, reparou que havia destruído seus galhos, suas folhas, seus frutos. E verteu o segundo balde de água fria para que sua esposa retornasse a forma humana...


E então, ele viu sua esposa sem os pés, sem as mãos e sem poder falar.

Diante daquele horror, ele correu, correu, correu, incessantemente, para dentro de uma floresta, até encontrar uma pedra. Lá,  ficou sentado com os olhos fixos para o chão, pensando no que havia feito. E o tempo foi passando, sua barba cresceu, cresceu, cresceu até tocar o chão. Então, ele decidiu que já estava pronto para voltar e encarar o que havia feito.


Foi conversar com a irmã mais velha sobre o que aconteceu e perguntar se ela sabia o que eles poderiam fazer para consertar tudo isso. A irmã mais velha disse que não sabia, mas que eles podiam tentar.


 Então, foram até a casa onde estava a irmã mais nova, ainda deitada na cama, mutilada da mesma maneira como na noite de nupciais, como se o tempo não houvesse passado para ela. A irmã mais velha disse para o marido da irmã mais nova:


- eu vou verter o balde dágua sobre minha irmã e você subirá com muito cuidado , com muito zelo sobre sua copa e consertará cada folha, cada galho, cada fruto... e depois, verterei o segundo balde de água para que ela retorne a sua forma humana e veremos o que acontecerá.


Assim foi feito. 


Assim que a esposa do rapaz tornou sua forma de árvore, com todo o cuidado e amor que sentia, ele foi consertando cada parte dela, demoradamente, como quem soubesse agora do quão preciosa ela era para ele. Quando terminou, a irmã mais velha da menina verteu o segundo balde de água e ao retornar a forma humana, ela estava novamente perfeita.


Com lágrimas nos olhos, a esposa disse para o marido:


-Confortai-me com flores,

fortalecei-me com frutos
porque eu desfaleço de amor!

Emocionados e em silêncio, os dois se abraçaram  na certeza daquele amor.





(Imagem de autor desconhecido)

lundi 26 mai 2014

Luz

Luz
amarelo feito de afeto

ossos antigos de palavras

No ventre da noite,
adormeço.

Ossos antigos de palavras
olham
não entre, caminho, teu.

Tocam sinos, sós
o azul abre meus olhos

Cortinas que não existem,
enfeitadas de ausência,
ventam.

Mas meus fios,
minhas cordas,
permanecem imóveis


Teu poente em meus lábios
me afunda em pássaros

mas "o céu é grande!",
você diz.

O silêncio sangra
azul.






Palavras e desenho de uma noite de maio adormecido.

mercredi 21 mai 2014

curta-metragem

Na gaiola, um pássaro
Do lado de fora, o voo
agitado, outro pássaro
apaixonado
de mesmo colorido
Nos olhos dos dois:
encontro impossível.

lundi 5 mai 2014

Vaga-lume

Estou olhando a palavra vaga-lume bem diante do meu nariz
É meio-dia e tenho certeza que essa palavra está bem aqui
no nariz que também é dentro do peito, de acordo com a última pesquisa cientifica de uma universidade cujo nome já esqueci, ah, a universidade dos javalis
meu vaga-lume riu
eles são assim, não, me corrigiu, disse que apenas ele era assim, fiquei mais feliz
Estamos nos olhando invisíveis, olhar palavra nem sempre é fácil, ainda mais uma que está no espaço diante do seu rosto, entre os óculos e um desgosto
sim, meu vaga-lume sabe aquilo que não preciso dizer

Os que estão à minha volta aqui no trabalho, luz vaga, parecem mais  fotografia, imóveis na minha vista, só o vaga-lume existe, a palavra que se equilibra na ponta do meu nariz
E assim vou esquecendo do teu nome repetido em giros de dentro.

Vaga-lume, quando você voar, me leva contigo?

Veredas de fim

Há um barco
nas veredas de ti
dentro de mim
a espiar meu olhar
meus serás
nossas águas
agora separadas
o barco balança
à dúvida nos lança
mas firme escoro
suas fronteiras:
ancoras de fim.

samedi 3 mai 2014

presente

"Ah, se eu pudesse viver
no instante presente de ser
sentiria a água escorrer
na pele a bater: você!"

samedi 12 avril 2014

Ferrugem

Querida bicicleta,
é difícil andar por esses cantos ao teu lado como antes com esse sapato de salto. Na verdade, está difícil mesmo andar por ai, visto roupas que não dizem nada sobre mim. Aquela história nossa do vento para o verde vir por dentro, aquela história do mar cansado de azul ou do navio escondido por séculos e séculos bem na beirada da orla da praia suja ,  a única  com sofá flutuando, com garça sentada e tudo. Nós e as garças andando sobre as águas, você lembra?
Sinto saudades  das andanças de chuva com lama mas sem drama,  era bonito descobrir. Hoje, te revi um pouco enferrujada, essa cor que o tempo tanto gosta não se sabe o porquê, mas você me fez entender a ferrugem, coisa feita para ser encantada. Por isso,  estou ferrugem de também, memória que você prometeu pra mim se um dia esquecesse de quem fui.



jeudi 10 avril 2014

Amor,


faz tempo que não te escrevo. Ainda lembro das nossas antigas e longas cartas...hoje,serei breve.  Preciso dizer: teu beijo amanheceu meu desejo, mais uma vez.





mercredi 5 mars 2014

À Camille Claudel




À noite,
violentos vermelhos
sonham...

(Rodin!)

o devaneio dança
a lança aponta
o próprio peito

(Rodin!)

o mar invade a sala
mármore-lava
mneumónica

(Rodin!)

a espera trágica
a pedra prepara
em tuas retinas:

Rodin!


lundi 3 mars 2014

A gota d'água desaba teu rosto na fotografia

 Na vida rasgada do outro lado que nunca virava de si para o mundo, morava uma batucada que, às vezes,  lembrava de ser. E pedia pôr do sol. Ver o poente era como um filme da história deles,  metafórico. Ela continuava bamba pelo fio da estrada apagado pela luz. E  a batucada logo rebentava outra vez. Mas o barulho cansado de tanto talvez, um dia, se desfez no corpo do silêncio.

[Tocou o despertador, vários palhaços a minha volta me olhavam, queriam me dizer uma palavra feita de silêncio, mas que brilhava. Apertei o nariz amarelo do primeiro que tentou me levantar do sono e me virei e revirei na cama, no sonho sonhei que vários palhaços me acordavam com tambor e acordeão, apertei o nariz azul do primeiro que tentou me levantar do sono e me virei e revirei na cama, no sonho sonhei que vários palhaços tentaram me acordar buzinando em seus triciclos  e  eu sonâmbula abri os olhos bem forte, daquela maneira que só podemos abrir em sonhos, e desequilibrando meu coração em cima da cabeça, em cima da saudade, em cima do sorriso, com eles parti...]



solo para Ícaro


solo para Ícaro

fios


fios,
turvos
rios

Escafandrista

em tua cidade submersa

dimanche 23 février 2014

brancos




os brancos entre sua boca
ainda estavam lá
os brancos entre sua boca
Pareciam se espalhar...
como uma doença


os olhos abertos de ausências...


vendredi 24 janvier 2014

órbita

os aeroportos sabem ,
as formigas também,
Encontrei o alguém
(do Sonho)
as palavras embolaram entre meus medos,
 mas ele sorriu, não correu de desespero,
a espera estalou dentro dos sonhos
o querer que eu seja dele,
até os besouros sabiam,
naquele dia,
o amor se abria...




anestesia

anestesia
a antiga agonia,
esfria.

a razão costura
os fios retos
entre teus restos




(quem serei eu ao despertar do outro dia?)

jeudi 23 janvier 2014

Caos



[Teu dedo me perfurou,
girou azuis...]



Talvez, você não saiba
[a porra do caos!]
o teu abrir em mim,
machucou

Dormente no ainda,
petrificada da certeza
do Nunca

a certeza silenciada,
violenta e cega,
[nos] seca.

sal


o corpo acorda mineral
o sonho se embrutece
na dureza do sal.



certeza


a gota d'água desaba teu rosto na fotografia.


desvio



o amor esticou a paciência
não era ciência,
Bergson,
razão,
talvez, você não compreenda


 espio meus tortos,
tanta curva e arrepio
não conseguiria caber
num coração tão medido,


o caminho se desvia,
meus vermelhos riscam
outros sonhos longínquos,
despida de ti,
sigo.






águo

O escuro encosta
líquido,
(me) entorna.

dimanche 12 janvier 2014

Poeira


Entre os cílios que se abrem,lentamente, pequenos botões amarelos, múltiplos sóis a me amanhecer. Como faria com tanta fagulha de vida a espetar a alma, abrir cada mágoa a ser perdão? Tuas palavras me giravam em luz, tuas palavras de amor espalhadas pela cidade, tocavam uma melodia que desabrochava o chão.

[Por muito tempo busquei um quê de vento no girassol, busquei o girar no girassol, o sol no girassol. Hoje, quero o girassol no girassol, a anti-metáfora, o mundo simples.]

vendredi 3 janvier 2014

Cartas guardadas


Desculpa "colocar uma expressão de infinito", como diria o Van Gogh, na nossa história. Você sabe que sou sonhadora e desato amarras que prendam meu corpo na matéria, flutuo sobre o que não existe, com as janelas invadidas de pássaros, teus. Eu queria gostar menos de você, mas demoro, descobri que também sou paquidérmica! Só que para deixar de amar pessoas, será isso possível? não, o que deve acontecer é como alquimia, me misturo de outras ruas, outros passos, outras nuvens e os teus sons abafados pelas invenções de outros sonhos, podem assim desafinar dentro de minhas cordas, só que ainda estão lá, mesmo desafinados, ainda me tocam. E se é tão difícil, para que esquecer? as águas, ainda que, às vezes, violentas, me revigoram, no sentimento que pulsa dessas águas ainda agitadas (mas verdadeiras), consigo me ver pedaço por pedaço espalhada na espuma e, quando me abraça com alguma palavra de carinho,as águas,enfim, se acalmam e me vejo inteira...



[Este é o primeiro dia que não nos falamos depois de te encontrar dentro de mim, fecho os cílios que desaguam, os ventos se dobram em infinitos véus que te cubro, não quero mais a nitidez do teu corpo na memória, quero Lethes, afundar nas águas do esquecimento. Busquei os alicerces do amor espiritual e da doação que são verdadeiros, mas, ao final do dia, minha solidão encara tua saudade e a certeza que eu sabia que seria assim.]