mercredi 25 juin 2014

Blogger Palavra para incorporar: percursos de escutas e (re)escritas




Este blogger é um espaço aberto para meus alunos como memória dos percursos de escutas e (re)escritas, tendo por intuito a publicação virtual das criações em sala de aula.



In: http://palavraparaincorporar.blogspot.com.br/









mardi 24 juin 2014

Minhas fotografias são mentiras

Minhas fotografias são mentiras. Cadê a gargalhada e o dente torto? Três ou quatro vaga-lumes no olho? Palavras espichadas espalhadas pelos cabelos? Cadê sua voz  sendo cosquinha no meu rosto? Cadê meus pássaros todos?

lundi 16 juin 2014

Teu nome

Teu nome:
 meu coração estreme-céu.




A construção

Os barulhos da obra (me) ferem,
mas a casa ergue.

Entre os andaimes de palavras,
o Martelo orquestra o verso.

Dentro da minha cabeça,
sinfonia de ruídos
acorda o poema
balde, areia, cimento
e as vozes dos operários,
poetas?

Disfarçados, constroem a casa
ao lado de minha janela,
o barulho do Martelo (me) aperta
o barulho do Martelo (me) segreda
sonhos bruscos de tinta e pedra.

O (des)concerto recomeça:
da janela, espio a fresta,
 parece um quadro de Tarsila,
corpos de mãos e mas nos rostos,
 os pés desnudos.

A fresta recorta um som espiã
desvia o olhar em busca de onde
o Martelo fia o cinza como atira
o verso "Mas teus olhos precoces",
"de medo", outra vez, se esconde.

Ouço as tentativas, da primeira a quarta,
o Martelo,entre os andaimes da casa,
fere outras palavras e "de medo" escapa.

É a última estrofe, o cimento gira,
na verdade, é a palavra cinza moída:
botão de estrela na barriga do trator.

Os ruídos (nos) tecidos da casa
perfuram o nunca das paredes
sonhadas; perfuram os pássaros
de água e o mar invade as frestas, só,
 a construção de areia  estreme-céu.

A palavra cinza escuta o estrondo:
o Martelo estala  "de medo",
o barulho cessa.

 A casa pronta de espera, declama,
 enfim, o último verso, porta aberta,
 "Mas teus olhos precoces de medo,
 não percebem.".

dimanche 15 juin 2014

Juramento: a palavra viva em sala de aula

Quero que nossas aulas nunca sejam aulas, mas sempre encontros, encontros vivos feitos de palavras com presença no sagrado, como minha irmã Bianka Barbosa diz. Palavras vivas para incorporar ao ser. Quero que sempre possamos compreender o momento  de escuta e de fala, com respeito e afeto com os olhos abertos de vida. Sobretudo, que eu seja uma professora comprometida com o ensino para a sensibilidade que possibilita a experiência da espiritualidade do ser. E  peço à espiritualidade para que sempre me conecte com as intuições certas sobre as vibrações das almas dos meus alunos, de maneira que eu possa levar a palavra precisa no momento aberto. Que cada aluno meu possa sentir essa vibração de afeto e também se dedique à construção deste percurso para modificar o mundo. Vocês ressignificam a minha existência! Percebo que eu realmente amo ser professora, amo meus alunos, quero e vou fazer o melhor curso que eu puder oferecer em nossos encontros, sem nunca faltar respeito, afeto e palavras sinceras abertas de vida. Peço para que  seja justa com as correções e não esqueça de ser eu mesma, não me anule em prol de um sistema mecânico e opressor. Mas  sempre recrie o que existe de maneira lúdica, para aprendermos sim,mas sendo felizes juntos. Assim seja. Este é o juramento.

vendredi 13 juin 2014

mas teus olhos precoces de medo




Daqui posso ver teus gestos
olha o céu dentro do aquário
dentro do ainda, água-viva

os peixes deliram cores
o ar rarefeito seduz a morte
o coral se quebra sem norte

a água-viva se lança ao mar
de encontro ao meu corpo, mudo
os corações se cegam.

o colorido pisca dentro do aquário
Mas teus olhos  precoces de medo
não  percebem

as luzes ascendem  meu peito
o aquário te entorna, devaneio
de águas, silenciosas asas.








Insônia

Insônia
quando o cansaço soca o sono.

mardi 3 juin 2014

A árvore florida





Tentativa de reconto do conto contado por minha mestra Ilana Pogrebinschi



Há muito tempo atrás, em um vilarejo, viviam duas famílias: uma muito pobre e outra muito rica.  A mãe da família muito rica tinha um casal. A mãe da família muito pobre tinha duas filhas e precisava trabalhar muito para poder sustentá-las.
Um dia, as irmãs inconformadas com o fato de sua mãe trabalhar tanto,  decidiram que tinham que fazer algo. E então a irmã mais nova teve uma ideia
-Irmã, se eu te contar um segredo, você promete que não contará a ninguém?
E a irmã mais velha prometeu que nada diria. Então, a irmã mais nova revelou:
- Eu posso me transformar em árvore!
- Como assim? - disse a irmã mais velha.
- Basta que você siga tudo o que eu te falar, com muito cuidado.
Pegue dois baldes com água limpa, disse a irmã mais nova, verta o primeiro sobre mim e eu me transformarei em árvore. No estado de ser árvore, suba sobre meu tronco, com muito cuidado sempre para não machucar nenhum galho ou folha e colha todas as flores azuis que puder. Quando acabar, verta o segundo balde de água limpa sobre mim que eu retornarei minha forma humana. 

A irmã mais velha ficou empolgada com a ideia, concordou prometendo seguir passo por passo e tomar muito cuidado.Assim foi feito.  Quando a irmã mais nova retornou a sua forma humana, elas tinham flores e mais flores azuis. Foram até o mercado vender as flores para ajudar a sua mãe que tanto trabalhava.

- Flores! Quem quer flores? Flores! Quem quer flores azuis?


A mãe da família rica que passava por ali  com sua filha decidiu levar algumas flores azuis para sua casa, pois estavam muito bonitas e vistosas. E as levou para casa, arrumando-as em sua sala.

Quando o irmão da família rica encontrou as flores azuis, não conseguia parar de olhá-las, fascinado, hipnotizado por tal azul, pela vibração misteriosa que emanava daquelas flores. Ele não conseguia parar de pensar nas flores, seu pensamento era todo desejo das flores azuis. De tal maneira que foi perguntar a mãe onde tinha encontrado aquelas flores. A mãe contou que foi no mercado, de manhã, comprou de duas irmãs.
No dia seguinte, o irmão foi até o mercado, obstinado.
 Encontrou as irmãs e decidiu levar todas as flores azuis que vendiam. As irmãs ficaram muito felizes e voltaram para casa com o dinheiro das economias para ajudar a sua mãe.

 Mas o rapaz estava tão fascinado pelas flores que ele precisava conhecer sua árvore. Então, seguiu as meninas no seu caminho de volta para casa, mas o caminho era tão longo que, quando chegou até a casa das irmãs, adormeceu no jardim.


Ao amanhecer, o rapaz não foi notado pelas irmãs, talvez, por estar atrás de alguns arbustos e, assim escondido, pode descobrir a transformação da irmã mais nova em árvore das flores azuis.


 Voltou para casa apaixonado, decidido a se casar com ela. Contou para sua mãe que, por nunca lhe negar nada, concordou e foi conversar com a família da menina. Marcaram já o casamento que aconteceria, em breve, na casa da família rica. Assim foi feito.


Na noite de nupcias, o rapaz fez um pedido íntimo:

-Esposa... será que você poderia se transformar em árvore para mim?

A menina ficou muito assustada, ninguém além de sua irmã mais velha sabia de seu segredo! Mas, olhou dentro dos olhos do marido e  confiou nos seus sentimentos, concedendo-lhe seu pedido. Assim, explicou passo por passo tudo o que o marido deveria fazer:

- Vá até o rio e pegue dois baldes de água limpa. Verta o primeiro sobre meu corpo e  me transformarei em árvore. Com muito cuidado para não rasgar nenhuma folha, não machucar nenhum galho ou fruto, você poderá subir sobre mim. Depois, verta o segundo balde de água sobre meu corpo que eu retornarei a minha forma humana.

Mas o marido estava tão mas tão extasiado que não prestou atenção em nada que a esposa falava. Então, verteu o primeiro balde sobre a esposa e se deparou com aquela árvore imensa e frondosa de flores azuis! Ah, ele ficou enebriado, e saiu subindo pela árvore, se deitando por todos os galhos, provando de todas as frutas, arrancando suas flores, em êxtase! Como era linda aquela árvore! Como eram azuis as suas flores!  E foi se  jogando entre sua copa, de maneira que quando desceu da árvore, reparou que havia destruído seus galhos, suas folhas, seus frutos. E verteu o segundo balde de água fria para que sua esposa retornasse a forma humana...


E então, ele viu sua esposa sem os pés, sem as mãos e sem poder falar.

Diante daquele horror, ele correu, correu, correu, incessantemente, para dentro de uma floresta, até encontrar uma pedra. Lá,  ficou sentado com os olhos fixos para o chão, pensando no que havia feito. E o tempo foi passando, sua barba cresceu, cresceu, cresceu até tocar o chão. Então, ele decidiu que já estava pronto para voltar e encarar o que havia feito.


Foi conversar com a irmã mais velha sobre o que aconteceu e perguntar se ela sabia o que eles poderiam fazer para consertar tudo isso. A irmã mais velha disse que não sabia, mas que eles podiam tentar.


 Então, foram até a casa onde estava a irmã mais nova, ainda deitada na cama, mutilada da mesma maneira como na noite de nupciais, como se o tempo não houvesse passado para ela. A irmã mais velha disse para o marido da irmã mais nova:


- eu vou verter o balde dágua sobre minha irmã e você subirá com muito cuidado , com muito zelo sobre sua copa e consertará cada folha, cada galho, cada fruto... e depois, verterei o segundo balde de água para que ela retorne a sua forma humana e veremos o que acontecerá.


Assim foi feito. 


Assim que a esposa do rapaz tornou sua forma de árvore, com todo o cuidado e amor que sentia, ele foi consertando cada parte dela, demoradamente, como quem soubesse agora do quão preciosa ela era para ele. Quando terminou, a irmã mais velha da menina verteu o segundo balde de água e ao retornar a forma humana, ela estava novamente perfeita.


Com lágrimas nos olhos, a esposa disse para o marido:


-Confortai-me com flores,

fortalecei-me com frutos
porque eu desfaleço de amor!

Emocionados e em silêncio, os dois se abraçaram  na certeza daquele amor.





(Imagem de autor desconhecido)