samedi 15 novembre 2014

Amor: "vaga-lumes driblam a treva" (Manoel de Barros)

Sim, a esperança existe!
com minhas mãos quentes de amor
posso dizer: GRATIDÃO!!
Acho que minha sorte voltou!

Turma 2210,
guardo comigo o dia de hoje 14/11/14, vocês  me fizeram sonhar, mais uma vez. Eu achei que tinha esquecido como se sonha, achei que tinha esquecido como se acredita que a mágica existe, mas vocês vieram e me ensinaram a ser esperança, sempre.
Toda vez que pensar em desistir, lembrarei deste dia... e a leveza que amor abre nossos olhos... de mãos dadas, invisíveis, seguiremos pelo caminho que for, não importa o tempo que passe, vocês seguirão comigo! Vocês são muito especiais, é sincero  que digo! Amo vocês!

"O amor que eu sinto é um afeto tão novo que não deveria se chamar amor" (Moska)






"Nenhuma palavra ou gesto de amor se perde no tempo" (flor)


Este dia foi gravado pelos alunos no vídeo (link abaixo),
me emocionou, mais uma vez. Amo vocês!
in:



jeudi 13 novembre 2014

Manoel e o rio

Hoje, Manoel de Barros se foi
para a terceira margem do rio, como conta Rosa, Guimarães Rosa, 
e enquanto existir na canoinha de nada de alguém - que é a memória, 
ele estará vivo.

Para Manoel, Manoel de Barros

Para Manoel, Manoel de Barros

Encontrei uma borracha em abandono no chão azul.
Ela me contou que fazia de conta que era pedra no fundo do mar.
Vi Manoel de Barros no meu olhar.

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Como crescer pra passarinho agora?
Como descobrir o sonho do silêncio?
 Como guardar peixes no bolso?
 Como carregar água na peneira?
se ele não está
se ele não mais está

Como descobrir meu olhar fontana?
Como o inseto ser maior que o sol?
Como passear de rio inventado?
Como voar fora da asa?
Se ele não está
se ele não mais está

Sim, as pedrinhas do meu quintal serão sempre maiores
que as do mundo,
 justamente pelo afeto.

Sim, é preciso transver o mundo!
puxar o alarme do silêncio!
ver noiva camponesa voar como em Chagall!

Sim, você me faz sonhar, Manoel,
sim, as palavras sonham,
sei que  o nome empobrece a imagem, como você me ensinou.

Mas há uma palavra deitada por dentro do meu olho agora
ela te olha como quem quisesse contar
um tom de nuveflor, mas a flor de espinho,
a abandonada.
ela te olha como quem quisesse dizer da infância da formiga,
da água no coração delas...
catar os desperdícios todos para te entregar por esperança
sim, a esperança
de te convencer a ficar...mais um pouco...

Essa palavra aprendiz de girassol
é feita de uma forma que parece amor, mas  não é
 é maior.
Te abraça, agora, silêncio.

(De: Juliana)



A cineasta (e confidente literária rs) Ana gravou a declamação desse poema na turma 205, levo comigo essa memória enfeitada de afeto!
in:

dimanche 9 novembre 2014

Eco

II
Quando criança, ele guardava palavras de eco, escritas de luz e sombra. Era uma caixa repleta desses sons enfeitados de solidão. Alguns achavam que a solidão não era feita para enfeitar e ele ria, como quem guardasse um segredo. Ela procurava por encontrá-lo, há anos não o via. Encontrou o endereço de sua casa numa carta antiga, da infância. A saudade foi desembolando os nós dos pensamentos, nudez do medo. Decidiu visitá-lo, para lhe entregar sua caixa ecoada. Reabriu a carta do "só abra se você quiser voltar", descobriu um mapa. No canto direito amarelado, um botão de camisa velha pregava o coração do mapa.  "Aqui é lugar onde nos casaríamos", a legenda explicava. Os rios inventados de palavras das conversas que eram diárias... tudo passa. Quem seria ele hoje em dia? Os porquês não pediam resposta, a memória de seu cheiro entrou entre um medo e outro equilibrando-se. Seguiu os caminhos tortos, prestes a desabar em lá e  entrou no coração do mapa. Havia ali uma casa abandonada, feita de cartas, palavras borradas pela chuva, pela espera. Ela andou devagar, em direção à música que o vento inventava entreaberto na porta, histórias a ranger nas iluminuras da madeira velha. As janelas empurravam as cortinas para fora, eram compridas, compridas e finas, tecidas de água. O abandono da casa lhe fizera bem, ela pensou. E como um mar em ressaca, as cortinas lhe molharam dos pés a cabeça. Sacudiu o corpo, apenas o corpo, os afetos ainda ostravam-se. Também aberta de águas, a caixa de ecos que a menina segurava deixou escapar  "Quem aí está?"  Quem aí está?"

samedi 8 novembre 2014

sal

I
A cena era cotidiana, ela voltava para casa depois de um dia de trabalho, o sono pendurado nos olhos, as pessoas embaçavam em sua vista cansada, o dia empurrava uma série de tarefas adiadas, outra madrugada virada "será que vale a pena?", ela pensava quando desceu do ônibus e caminhou até sua casa, era um caminho mais repleto de escuridão do ultimamente. Na verdade, ela nunca tinha reparado o quanto aquele caminho era feito de escuridão, escuridão pendurada das árvores, nos cantos dos bueiros, espalhada na solidão das ruas tortas, feitas das mesmas pedrinhas daquela música antiga que sua avó costumava cantar para dormir, como era mesmo? "Se essa rua, essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava, ladrilhar, com pedrinhas com pedrinhas de brilhantes para o meu , para o meu amor passar." Cantou baixinho como quem desabotoa um alfinete de dentro do peito. E sangrou a esperar que algo de novo acontecesse, nem o silêncio estava, pois uma série enfileirada de pensamentos vinha e desvinha em seus passos,a rua parecia mais enorme, cada dia mais enorme, "será que as casas vão tombar?", as casas se inclinavam como quem balançasse de vento, mas não ventava por lá. Há anos tudo parecia imóvel, se não fosse pelos gatos que subitamente surgiam ao longo do caminho por debaixo de um carro ou de sua carência, ela acharia que caminhava numa rua de papel, cenário prestes a desabar de medo. Mas ainda pousava esperança naquelas ruas, como um beijo que pendurava os tecidos de escuridão para secar de amor...
Entrou em casa, não acendeu as luzes , queria experienciar os tecidos de escuro que desciam do teto e balançavam de afeto. Ela esperava por algo que acontecesse, uma carta, um telefonema, uma pessoa nova que fosse conhecer, mas só ouvia uma goteira constante a estilhaçar na pia da cozinha, "Vai que vira um rio?", a esperança cismava de enfeitar o pensar da menina. Mas naquela dia específico, talvez tenha sido o único brilho. O cotidiano parecia feito  sal. A janela se misturava ao aberto do céu, a noite queria crescer para vaga-lume, mas o medo despontava as preocupações. Tocou uma mensagem no celular,  a expectativa, "Não liga, já te expliquei tudo ontem.", o estrondo antigo. Então, era isso, a porta só estava entreaberta para ela, e ele visto pelas frestas orvalhava saudade... o céu tombava, tombava, tombava, mas ela nada sentia, não fugia, não fugia, em alívio voaria-se.