mardi 31 mai 2016

Bolinho de chuva

Bolinho de chuva
de chuvisco,
de brisa,
um dia, quem diria?
na primeira mordida,
uma nuvem escondida,
pulou um pouco perdida
pela janela inventada
como quadro pendurada
do lado de fora da entrada

Bolinho de chuva
em choro, trovoada
[um pouco torrada]
seu sonho é ser curva
da razão meio avoada
ou bolinho de neblina
assada e divina
um dia, quem diria?
na segunda mordida,
a nuvem começou a funcionar
feito máquina de escrever antiga:
tac-tac-tac-tac-tá
as correntes de ar
[con]versavam sem parar
na linguagem dos ruídos

Bolinho chuvoso,
pela terceira vez, te mordo
gosto de nuvem a funcionar
estranho tac-tac-tac-tac-tá
a respingar gotas de faíscas
da feitura da chuva frita
quando um curto circuito e tanto,
de súbito e de afeto, risca
a palavra relâmpago em branco
no céu da boca que chovia,
uma memória azul brilha.













lundi 30 mai 2016

Descobri o título da nossa história.

Romântica

Essa tinta que fica e arde, pigmento permanente,
Feita da urina das vacas alimentadas das folhas de mangueiras
Feita das múmias egípcias embalsamadas com asfalto
Feita do resultado da luta entre um dragão e um elefante
[E que tem até relato no livro História  Natural de Plínio]
Feita de um pigmento sintetizado em laboratório cardíaco
Feita por um pequeno inseto que produz um vermelho carmim fugidio
Feita por pedra preciosa moída intensamente e purificada em processo complexo
[página 27 da Oficina de Pintura da Lourdes, conhece?]
Feita de naturezas líquidas diversas aos tecidos vegetais e animais
Feita em Alquimia nas cavernas antigas com pinturas rupestres
Feita dos polvos escondidos em corais das regiões abissais

Essa tinta nossa, meu amor, mesmo com carga cheia, não escreve mais.









Porta-retrato


As horas organizadas em casas
as casas organizadas em portas
as portas organizadas em números
os números organizando os seres
identidade, cpf, celular, por favor
os seres sem serem na fila do cinema 
o cinema com pipoqueira vermelha
descascada como se fosse verdadeira
náusea a vista ou em cinco parcelas?
No porta-retrato, essa imagem
história de três andares  sem ninguém:
tarde de domingo, à noite era sempre
nas casas com suas luzes bem acesas 
de contas de luz



jeudi 26 mai 2016

Amor degradê

Meu corpo, teu suporte
suporta como tela forte
o corte do desejo teu
sem norte
a me experienciar em breu
a primeira velatura se leu
pincelada aguada em véu
Em meu olhos, branco [quase] céu
Venda clara a riscar teu croqui
[Quem é você?]
[O que faz aqui?]

Outra pincelada a seguir meu rosto
teu rosa neve a [me] abrir camadas leves
[Você é meu sonho!], grave voz escreve,
na boca, a tinta breve, estranho gosto,
O desejo tece teu nome em minha pele.

Em véus, teu pincel meu desejo arranca
e inteira intensa vermelha me lança
Dripping com minhas cordas carmin
[Meu nome em tua pele!],o querer quer
de mim e desafia a canivete tua nuca,
o medo arranha, esfria o lustre azul nunca.
Nos lençóis, um tom preto o peito borra,
o teto desaba um pouco, a casa entorta,
teu véu [quase] céu em verniz pesa,
teu rosto some, o rosa neve sangra
teu nome ainda em minha tela seca,
meu vermelho craquela.

Não sei ser degradê.



mercredi 25 mai 2016

Biografia do outono - segunda memória


Segunda memória





Aula de aquarela
Profa Lourdes Barreto

aguada degradê - cor quente e fria - vermelho e violeta
com criação livre
25/05/16

lundi 23 mai 2016

Biografia do Outono - primeira memória

Biografia do Outono

Primeira memória

O tempo mudou, teu poema estremeceu o meu pensar, meus pelos deitaram sobre tuas palavras a experienciar direções fora da caixa, a torneira aberta me entornava quase toda, a torneira aberta sem cessar a me livrar do corte cego, do corte exato, do corte em seta para algum lugar. Teu poema foi girando em meu calcanhar, laranja em gomos, eu diria, minha nova forma de andar. Fui descascada a mão por teu olhar. Descascada a mão da casca oca, da casca imposta. Sopro sagrado a entrar pelo lado esquerdo da memória. O cordão umbilical com a vida verdadeira, um bambolê a equilibrar meu corpo sobre sonhos. Folha seca do mesmo tamanho seu, a castanha, a fila feito cobra de pano a crescer, a crescer e a gente na dança do encontro de nascer livre, vê?


[Não é raiz, são galhos. A raiz é interna, inteira, você mesma. Não é raiz, são galhos floridos, fortes em giros de síntese de luz. Não é raiz, são flores. Não é raiz, são frutos. A raiz é só sua, nua, brotar silencioso de existir.]

Uísque a dois

[Mas o amor não se quer... se quer?] O amor é que quer [Eu queria te amar, mas tive medo que me odiasse] Qual seria a diferença de uma imaginação e uma lembrança não compartilhada? Não quero que você se embriague o suficiente para deixar algo de fora das suas lembranças...[Algo de fora de minhas lembranças?] Gostaria de deixar muitas coisas de fora do meu conhecimento, mas nenhuma que abarque você. [Como são seus poemas? Abarque... palavra parece barco em barca, você não ouve minha risada] Nenhuma memória que te abarque que eu desejasse deixar fora de mim.  Eu queria te amar, mas tive medo que me odiasse. [Quando eu escrevo, o sentimento fica diferente, faz as malas e vai morar no papel. Mas o amor não se quer... se quer?] O amor é que quer. O amante não passa de um querido. [Algo de fora das minhas lembranças?] A imaginação só traz problemas para quem a imagina. Não posso falar em querer amar. Amar não é um querer. Seria o mesmo que eu dissesse que eu queria que chovesse...Não controlo a chuva, tampouco o amor. [Posso te morder hoje?] Pode, se prometer deixar suas marcas sobre minha pele. [Só que o amor precisa querer e isso a gente nunca sabe] A gente nunca sabe o que ele quer. [Acho que ninguém mais fala sobre o amor, só a gente e os personagens Alice e Ulisses do livro que queria achar. ]O importante é que o amor fala através de nós.[você me faz rir igual criança]apesar e para além de mim. [você está poético mesmo. Deveria beber todos os dias.]A gente nunca imagina o que o desejo quer de nós. A imaginação só traz problemas para quem a imagina.

mercredi 18 mai 2016

Na última vez que morri


Na última vez que morri,
semana passada,
afogada numa poça d'água
aguada de mar pelo medo
[o medo faz chover nas cores
as borra de às vezes, quase sempre.]

Mas, ao abrir os olhos,
na ponta do pincel,
conduzia a palavramar
antes a arrastar meu corpo

O pincel abria a bolha
d'água a clarear
manchas da palavra mar
a secar, a nascer poça

[como morri numa poça?]



Hoje, o dia estava chuvoso
Caminhei pelas ladeiras
com roupas que nunca uso
A estrangeira recém-nascida
me contou  um pensamento outro
E disse que era meu,
disse que era eu.
Ficamos nos olhando por um tempo.

Acho que a morte deforma [um pouco] nossos rostos.






A contadora de histórias

A contadora de histórias
[onde moram as palavras]


Aula de aquarela
Profa Lourdes Barreto

aguada uniforme -  fundo vermelho
com criação livre
18/05/16

mercredi 11 mai 2016

Meu assassino,


Meu assassino,

Secar flores em feridas
vingança minha:
ainda ser amor,
["ter bondade é ter coragem",
lembra?]

Secar flores em feridas,
vingança minha:
reparti-las contigo, meu assassino
eu mesma as pinto
pigmentos do Bem do mundo

Secar flores em feridas
no dia do meu renascer,
a dança dos pássaros
ensina o Amor,
outra vez,
[vê?]

E te desejo bem,
serás [verdadeiramente] feliz, meu assassino.

Esse jardim é para você
deitar num dia após o crime
o sangue derramado na gola da blusa,
o coração contido nos dedos,
o sorriso copiado de um filme,
as cordas do objeto manipulado suspensas,
a faca deitada ao lado [ como uma terceira perna]

Deitado no meu jardim
de cores borradas de sonho
você vai respirar fundo
a força das flores
o Bem te abrirá como num susto
a consciência se esparramará em mar...

Neste dia, descobrirá:
ninguém mais joga xadrez contigo,
 você, meu assassino, jogou sempre sozinho.




[Respire a força das flores,
outra vez,
outra vez,
outra vez]

lundi 9 mai 2016

Janela


[Aquarela inspirada no trabalho do artista Sean Lewis]


Janela
Aula de aquarela
Estudo de cores terrosas
Profa Lourdes Barreto
04/05/16

Nuvem em nascer


Nuvem em nascer

Aula de aquarela
Estudo de cores frias e quentes: azul e amarelo
Profa Lourdes Barreto
04/05/16

Bosque interior


Bosque interior
Aula de aquarela
Estudo de cores terrosas
Profa Lourdes Barreto
04/05/16