samedi 11 juin 2016

11 de junho

 Acordei cedo hoje e sem despertador. Pensei em te escrever, mas tomei café. Preciso comprar pão e queijo. Lembrei da música do filme Moscou, de Eduardo Coutinho. Era bonita. Nunca imaginei que aquela música fosse escuridão entre pequenas luzes de isqueiros, duas vozes ao fundo. Cantei sozinha, na cozinha, a xícara de leite, entre as mãos um frio. Confundo o frio com tua lambida no pescoço, mas não tremo como na memória. Penso em tudo que preciso fazer nesta semana. Deito de novo. Penso em te escrever, mas leio um poema da Ana C. Ela me conta "imagino como seria te amar". Penso em te escrever, mas viro a página. Estou realmente cansada de morrer. É cansativo morrer, outra vez. Deveria ser agora a fase de começar a achar graça de tudo. Mas não acho. Decido me levantar. O lençol revirado, uma meia perdida atrás da cama, junto com uma caneta que falha. A boca seca.  Esqueci as luzes da casa todas acesas em cima do teu nome. Abro na página do poema em gota d'água. Ana diz assim "Cada noite que desce sôbre uma espera vã traz-me à bôca um gôsto de vinagre". A culpa foi minha. Acentuei mal nosso amor. Sôbre , bôca e gôsto em circunflexo ficam à moda antiga, como eu sou. Não te expliquei essa parte. Os cachorros da rua parecem mais quietos hoje. O vento gelado toca meu seio. Tiro o casaco. Meu corpo não te lembra. Meu corpo não mais te lembra. Penso na pele como a parte mais profunda. Aula de filosofia. Conversas dos almoços de terça feira.  Acho que vou andar de bicicleta. Sonhei com meu ex hoje. Preciso comprar contact para encapar os livros. Tenho vontade de jogar fora todos os quadros que pinto. Vou desistir de tudo. A vida sem facebook parece maior. É como andar no centro da cidade interditado e sem obras. Os prédios altos tombam de silêncio entre meu corpo pequeno. Fico parada nessa imagem como uma fotografia. Preciso confessar-me, mas não neste silêncio de cidade grande vazia. Não queria esquecer seu rosto. Preciso marcar o alergista.  Para onde foram todos que nunca estiveram em minha vida? Acho que sempre morei sozinha.


[Meu corpo quente e amolecido, febril, os olhos pesam,uma flauta toca, algo aperta meu coração, não deveria, as palavras se embaralham lentas em minha mente como se nadássemos num imenso aquário, eu e as palavras, e lembro daquela brincadeira da infância de ficar debaixo d'água até quando aguentar o fôlego. Eu sempre perdia e a superfície me erguia com suas mãos fortes e violetas, o ar voltava ao corpo enfim. Mas um dia, um dia, eu lembro, não conta pra ninguém? Eu tinha dez anos, estava sozinha no azul da piscina da minha avó quando o Destino surgiu. Brinquei com o Destino de ver quem tinha mais fôlego debaixo d'água, e ficamos um olhando pra dentro do olho do outro entre águas. Destino se fantasiava de peixe com asas,depois mudava para balão de fala,   eu ria, mas outra vez me concentrava. É que a nossa brincadeira era  diferente, a brincadeira da gente era: se eu perdesse o fôlego, era ele quem me levaria em seus braços longos, não  para a superfície, mas para a profundidade azul. 55, 56, 57, 58, 59 ,as bolhas aflitas surgiram de minha boca, as mãos da superfície me erguiam, mas as do Destino me puxavam pro fundo...]

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