jeudi 28 juillet 2016

23 de maio

 Eu deveria estar dormindo. Deletei meu facebook por um dia, parece que nasci. Terminei o trabalho sobre a poética da Lygia Clark em meio a um ritual canibal, pedras, águas e conchas pelo corpo. Queria fazer todas aquelas experiências com meu corpo e o teu. Eu não te falei essa parte no telefone de ontem. Imagino tudo isso, todo dia. Imagino como seria você de barba. O telefone não tocou.  Fico lembrando de memórias que nunca existiram. Daquele tempo que você também me amou e fomos para Petrópolis. Mas não lembro mais teu nome e sobrenome. A rodoviária, vinho, Calzone. Você foi um sacana comigo. Confundo teu rosto no rosto do presente. Preciso cancelar tudo. Não tenho mais paciência. Corto uma fita de Moebius infinitamente em círculos, o papel nunca afina, nunca. Parece que a tesoura dobra e desdobra a minha vida. Curvo a minha vida de papel na mão. Não tenho mais paciência. Amasso tudo rápido e jogo o caminho fora. Ando mais silenciosa. Queria passar dias e dias só lendo, sem mais ninguém. Depois de um amor de uma década que morreu de nascer tanto, eu não posso mais acreditar que. Não quero flores, palavras ou bailes de papel, in box. Rasgo tudo que não me pareça real no real. E se o rasgo ainda estiver pouco, taco fogo no final. O ventilador tem um barulho que me recorda o mar. Fico pensando como seria morar com você, amar você. E sinto teu corpo, meu peito na tua mão, o lençol fora do lugar porque o desejo. O teu olhar de amor naquele dia cansado, depois do trabalho. Mudei de ideia. Talvez. Não sei. Não sei. E se eu morrer de novo, escrevo.

3 commentaires:

  1. Acordo no meio da noite, assustado, a alma arrepiada. Você me olha. Estou na Siberia, descoberto, o branco me envolve, e o céu azul ri de mim. Não sei se estou respirando, ou apenas, congelado nesse momento. Você, um fragmento resistente que vaga em meu presente. Orbita o meu coração em um ciclo vicioso de emoções. Não sei agora, se dou um sorriso ou se eu deixo a lágrima continuar a escorrer. Começo a tremer, acho que cheguei a fase da Hiportemia. Tento me mover, mas só consigo espasmos. Fecho os olhos, sinto você, teu corpo quente, teu cheiro, teu gosto, teu prazer. Abro os olhos, te busco, mas apenas branco eu tenho como resposta. Olho para o céu, um floco de neve cai em meu rosto, posso senti-lo, mais gelado do que eu estou. Abaixo a cabeça a olho ao horizonte, vejo você chegando, tento correr, mas os meus pés não respondem ao meu comando. A lágrima congelou em meu rosto. Da minha boca, apenas fumaça. Os olhos ardem e eu tento piscar. Quando eu fecho os olhos, escuridão. Não consigo mais abri-los. O ritmo do meu coração é lento. E, no meio do escuro, eu sinto o seu toque. Seus lábios tocam os meus, mas, já é tarde. O meu coração para. O meu corpo desaba. Solitário, estou ali, em uma piscina de bola de sonhos, afundando lentamente. Olhando para o escorrega vazio. Um risco torto vermelho, que caçoa de mim. Espero que essa piscina não seja tão funda. As bolas, lentamente, me cobrem. Adeus.

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    1. Caminhando, como diz Lygia, vejo uma sala de bolas, sem gravidade. Levitam e congelam no ar, miniaturas de um outro sistema solar, ainda não descoberto. Vejo teu rosto entre azuis, bolas leves, lentas, ovulam. É verdade, Lygia, a Casa é Corpo.Estamos prontos para romper, para nascer, luz.

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