mercredi 2 novembre 2016

Linha Vermelha

A Cidade Nova, às quase vinte horas, queimava esperas. As pessoas se amontoavam, amontoavam, a calçada encolhida no cinza, é assim que a ansiedade escreve? Algumas moedas na bolsa velha, entre garrafa d'água e a carteira, me fazem musical, oscilo de um lado para o fundo dos degraus da escada desta estação do quase nada,  formas do início ou breu, você na Central.

Consegui pegar o Bancários
linha vermelha
Seu irmão melhorou?

Eu vou descer na Cidade Nova
daqui a pouco
Melhorou

Poxa
Cidade Nova você podia pegar o
321
Só me esperar

É? Já passou?

Falta pouco
Estou chegando Central

Está cheio?

Tem lugar ao meu lado
Estou logo atrás da roleta

Qual?

Bancários
321
Estou atrás da roleta mochila
na frente da grande barba
Torcendo para te ver
Estou depois Central


Avisto o 321- Bancários, passo a roleta, testo rostos na memória para ver se algum encaixa no  esboço teu. Na poltrona atrás da roleta, não há mochila ou tua grande barba. Faço sinal para descer, emergência, a sirene toca agulhangustia. Ônibus trocados, caminhos bifurcados.

Cadê você?
Entrei

Ih, já era
Entrou errado
Porque ainda não cheguei

Eu entrei no 321 Bancários
Vou descer

Te espero no ainda do último ponto, antes da linha vermelha, linha de sangue onde começa o amor, talvez. O escuro do instante brilha súbito, o incêndio na rua, no beco, no meio do agora. 321- Bancários, onde?

Chegou Cidade Nova
Estou mão pra fora
Mas onde você está?
Ele já vai virar
Fica de olho
Perto da polícia
Vai passar
Faz sinal

Estou no ponto

Você, Cidade Nova, diz acenar da janela; eu, Estação Oposta, verifico os ônibus às pressas. Nossa primeira fotografia sépia, futuro do pretérito. Seria

Os caminhos retos, sem conjunções.
A bateria do instante apagou o depois.